Admiro muito sujeitos corajosos. E decididamente Daniel Gildenlöw é um sujeito que admiro por essa qualidade. Para muitos ele é um gênio (completamente louco em suas peripécias musicais, mas genial) e para outros ele não passa de alguém com um ego megalomaníaco que gosta de se mostrar com tantas coisas supostamente “estranhas”. Eu, pessoalmente, me enquadraria no primeiro grupo, já que realmente acho que ele seja o típico gênio completamente louco. E indo ainda mais fundo em suas divagações filosóficas ele corajosamente dá uma guinada no som de sua banda.
Muitos fãs ficaram surpresos ao ouvirem pela primeira vez este “Road Salt One”, talvez até já com um pé atrás por causa do single 'Linoleum' lançado ainda ano passado. Houve quem abominasse o trabalho, dizendo que isso não era o Pain of Salvation que eles conheciam. Houve também que se surpreendeu positivamente, gostando muito do resultado. E realmente o resultado ficou muito bom, com a banda investindo em novas sonoridades, mais calcadas num Rock Progessivo setentista, cheio de efeitos, de ambientações mais calmas e bem menos intensas que nos trabalhos anteriores (Observando-se a construção musical, é gritante a diferença para com o “Scarsick”, de 2007, que por si só já fora uma grande inovação da banda no seu som).
“Road Salt One” é um disco de altos e baixos no que diz respeito às sensações dos ouvintes. E isso já se nota logo na abertura, 'No Way' mescla momentos fortes, de bastante peso, distorções e vocais até certo ponto agoniados (É uma percepção minha, talvez não seja bem essa a intenção), uma ótima faixa de abertura, que abre caminho para uma viagem surpreendente.
'She Likes to Hide' é bem curta, não passa de 3 minutos, mas é um rockão totalmente setentista, cheio de feeling e com uma interpretação irrepreensível de Daniel. 'Sisters' já é mais longa, com uma progressividade latente, repleta de quebras e com uma atmosfera soturna;se tivesse um pouco mais de peso, poderia facilmente fazer parte do track-list de algum dos primeiros discos da banda. Na sequência vem mais uma bem curta, 'Of Dust', que soa orpressiva, intensa, de uma simplicidade que chega a ser pertubadora.
A dupla 'Tell Me You Dont Know' e 'Sleeping Under The Stars' é uma preciosidade. São duas músicas que parecem se complementar, são bastante simples, com elementos quase lúdicos, mas que tem uma aura mágica, uma sonoridade tão surpreendente que eu quase não sei como definir. Talvez as melhores do disco.
Logo depois nos chega uma que remete aos discos mais antigos. 'Darkness of Mine' tem peso, vocal quase raivoso, instrumental complexo, teclados flutuantes, outra ótima música. 'Linoleum', o supracitado single já conhecido, é um flerte bastante forte com o rock clássico; apesar dos fãs mais antigos torcerem o nariz, é outra que merece todo o destaque. Pessoalmente diria que 'Curiosity' é quase dançante, tem uma levada muito legal e provavelmente funcionaria muito bem ao vivo.
'Where it Hurts' e 'Road Salt' são outras duas faixas que parecem se complementar, ambas com um clima bem íntimo, como se fossem representações de uma cena que ocorre num quarto fechado e escuro. Carregam o ouvinte para o desfecho do disco, com 'Innocence', que ao meu ver consegue ser uma perfeita fusão entre essas duas facetas do Pain of Salvation que conhecemos. Tem alguns momentos que lembram o início da carreira, e outros tantos que são o que ouvimos ao longo do disco, numa química muito boa. Um tipo de retreospectiva muito interessante.
É importante ressaltar que mais uma vez o disco é dividido em lado A e lado B, como seu antecessor, “Scarsick”, dando a ideia de que o CD seria como um saudoso disco de vinil. Nota positivia também para arte gráfica; o encarte vem repleto de fotos bastante interessantes, que de certa forma ajudam a compreender o contexto das músicas. Só não é legal a forma como as letras foram distrubuídas, muito apertadas numa única parte do encarte, mas fora isso, é um trabalho bastante esmerado.
Em suma: um disco muito bom, que represnta toda a potencialidade criativa deste sueco louco e megalomaníaco, mas genial, chamado Daniel Gildenlöw, que não teve medo nenhum de desbravar novos horizontes em sua música.
Ah, e sobre o conceito do disco, não me atrevo a fazer interpretações; e por isso, apenas transcrevo as palavras que constam no Digpack da versão européia do disco (que contem uma fiaxa bônus):
“Road Salt são treze faixas de cascalho moído, borboletas de asfalto, passagens nunca pisadas e bravas decisões. Não implorará que goste, não pedirá desculpas, não te levará seguramente através das águas perigosas. Se você não entrar no ritmo, ele vai te deixar na beira da estrada. Road Salt One pode ser um amante duro, mas se você tiver coragem de segui-lo e ousar entrega-se ao seu ritmo, ele vai te levar para lugares que você precisa visitar.”
Road Salt One – Pain of Salvation
Lado A:
- No Way
- She Likes To Hide
- Sisters
- Of Dust
- Tell Me You Dont Know
- Sleeping Under The Stars
Lado B:
- Darkness of Mine
- Linoleum
- Curiosity
- Where it Hurts
- Road Salt
- Innocence
(originalmente publicado no site Whiplash.net)
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