Falar de Iron Maiden sempre é muito complicado. Uma banda com uma carreira de 30 anos de altos e baixos que rendeu verdadeiras obras-primas de Heavy Metal como “The Number of the Beast” (1982), “Piece of Mind” (1983), “Powerslave” (1984), “Somewhere in Time” (1986) e “Seventh Son of a Seventh Son” (1988), como também obras de gosto bastante duvidoso e que não convenceram, como o sem sal “No Prayer for the Dying” (1990), “Fear of the Dark (1992, que só se salva pela clássica faixa-título) e a dolorosa dupla “The X Factor (1995) e “Virtual XI” (1998) com o até competente Blaze Bayle nos vocais, mas que acabou não se encaixando no estilo da banda. E que conta com uma legião absurdamente grande de fãs, que em muito casos aderem a xiismos ferrenhos.
Os anos recentes do Iron Maiden tem sido de bons lançamentos desde o retorno de Bruce Dickinson em 1999. Desde sua saída a banda investiu numa linha mais progressiva, o que seguiu após seu retorno no disco “Brave New World”, e ali que essa ideia de progressividade realmente começou a ficar mais interessante. Desta nova era do Maiden, segundo grande parte dos fãs, o melhor trabalho é o “Dance of Death” (2003), enquanto que o “A Matter of Life and Death” não é o mais aceito pelos fiéis seguidores da donzela de ferro. E sob essas circunstâncias todas, temos então um novo trabalho, “The Final Frontier”.
Talvez “medo” fosse a palavra de ordem entre os fãs. No último disco as progressividades de Steve Harris encheram demais o saco, deixando as músicas enfadonhas e realmente chatas, e muita gente temia que isso voltasse a se repetir. Mas por sorte não foi o que aconteceu, não pelo menos em grande parte das 11 músicas que compõe o track list do disco. A primeira parte da faixa de abertura 'Satelite 15... The Final Frontier' é no mínimo surpreendente. Uma mistura de guitarras distorcidas quase psicodélicas com batidas tribais numa afinação muito peculiar, que faz criar todo um clima inovador, diferente de qualquer coisa que já tenham experimentado antes. E na metade da música ela descamba para um hardão de refrão grudento, que por sua vez perde a originalidade, mas é competente e não deixa a desejar.
Eu pessoalmente gostei bastante de 'El Dorado'. Bruce mostra toda sua teatralidade na interpretação, dando a canção uma vida própria, como se uma cena perfeita se desenhasse diante de nossos olhos. Único ponto negativo que eu apontaria seria a demora de chegar no refrão, o que deixa a música um pouco massante em algumas passagens. Mas ademais, é um faixa muito bacana. Logo em seguida vem 'Mother of Mercy', outra ótima canção, dinâmica, de bom andamento e com um refrão bem bom de se cantar junto, com Bruce cantando muito mais uma vez. Um dos pontos altos do disco.
E finalmente o Iron faz uma balada que me agrada. 'Coming Home' fala sobre um soldado inglês retornando da guerra, tem um feeling incrível, mais um refrão incrível, muito bem construído ótimo trabalho de guitarras e as inconfundíveis linhas de baixo de Steve Harris. Uma jóia de música. E com 'The Alchemist' se fecha a primeira parte da bolacha. A música lembra os momentos de ouro da banda nos anos 80, sendo rápida, pesada, com ótimos riffs e batidas raivosas de Nicko MacBrain. Um presente aos saudosistas.
Depois disso começa a parte das músicas longas e progressivas. Dessa vez pode-se dizer que Harris acertou a mão em relação as introduções destas, diminuindo consideravelmente suas modorrentas performances apenas de baixo. 'Isle of Avalon' eu adorei, é uma das minhas preferidas. Começa baixa e soturna, mas sem demora cresce num ritmo cavalgante, com frases que grudam na cabeça, e com toda uma ambientação que parece nos levar para o meio de um ritual das sacerdotisas de Avalon. Em compensação, a que menos me agradou foi 'Starblind'; não sei muito bem o que dizer sobre ela, parece um pouco desconexa e perdida em meio ao disco. Não é ruim, mas talvez peque pela progressividade pensada da forma errada.
'The Talisman' é mais uma das provas da veia teatral de Bruce Dickinson. Seu início dá a ideia de um grupo de pessoas em torno de uma fogueira numa noite de luar ouvindo uma história; e com seu decorrer fica a impressão de um fade-out nos leva para história contada. Excelente música, com as características progressivas bem elaboradas, e que resultou num ótimo resultado. A nona faixa, 'The Man Who Would Be King', é interessante, sem muitos destaques positivos ou negativos, e encaminha bem para a derradeira canção.
O disco se encerra com 'When the Wild Wind Blows', composta unicamente por Harris, sem auxílio de seus companheiros. Tem uma carga emotiva intensa, numa interpretação mais que brilhante de Bruce. Tem a progressividade latente, e novamente bem construída, começando num tom bem baixo, como o vento começando a soprar, e vai tomando forma até chegar num ápice grandioso, para depois diminuir até sumir, e fechar o disco com chave de ouro.
“The Final Frontier” foi gravado nas Bahamas, no mesmo estúdio onde haviam gravado os grandes clássicos dos anos 80. Isso não significa dizer que eles tentaram voltar às suas raízes, o que convenhamos seria um auto-plágio daqueles. Mas de qualquer forma trata-se de um trabalho infinitamente mais inspirado e interessante que o seu antecessor. Ousaram na media certa, sem maluquices exibicionistas, e propiciaram aos fãs um trabalho de alto nível, que não pode ser perfeito e unânime entre os apreciadores do conjunto, mas que inegavelmente ficou muito bom.
O Iron Maiden é:
Bruce Dickinson – Vocais
Dave Murray – Guitarra
Janick Gers – Guitrra
Adrian Smith – Guitarra
Steve Harris – Baixo
Nicko MacBrian – Bateria
A produção é assinada por Kevin Shirley.
Track List:
- Satelite 15... The Final Frontier (8:40)
- El Dorado (6:49)
- Mother of Mercy (5:20)
- Coming Home (5:52)
- The Alchemist (4:28)
- Isle of Avalon (9:06)
- Starblind (7:48)
- The Talisman (9:03)
- The man Who Woul Be King (8:28)
- When The Wild Wind Blow (11:01)
Vale a pena comprar, a arte é bonita e não fará feio na coleção! ;D
Nenhum comentário:
Postar um comentário