quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Candlemass - Psalms for the Dead


            Doom Metal e Candlemass são praticamente sinônimos. A banda consolidou e deu ares de seminal a esse estilo que tem suas raízes mais profundas nos primeiros discos do Black Sabbath, no alvorecer dos anos 70, lançando trabalhos que se imortalizaram na história do metal mundial, influenciando centenas de artistas nos anos futuros.
             Uma carreira sólida de praticamente trinta anos pode estar chegando ao seu fim com este “Psalms for the Dead”, dado as constantes declarações dos integrantes falando sobre este ser o último registro de estúdio desta lenda sueca do heavy metal. Mas há de se destacar o pode, pois nunca se sabe quando esses discursos de despedida e encerramento de atividades é a sério, sendo ignorado pouco tempo depois para uma “volta” triunfal. Enfim, por causa dessa concreta possibilidade não pretendo me ater em lamúrias pelo fim da banda ou quaisquer que sejam os planos dos integrantes.
            Três anos depois do fantástico “Death Magic Doom” vem à luz deste mundo “Psalm for the Dead”, um disco que traz a marca do Candlemass nos últimos anos: peso plúmbeo, grandes e épicas melodias e sem jamais perder a essência sombria e mística que a banda tão habilmente usou ao longo das décadas.
            A primeira faixa é ‘Prophet’, que logo de início já chega com riffs cavalgantes e pesadíssimos, grandes linhas de baixo junto com a bateria formando um paredão sonoro imponente, que garante o peso sem perder nada da melodia. Logo em seguida vem a épica ‘The Sound of Dying Demons’, com seu começo arrastado, classicamente Doom, que cresce e cresce até o seu refrão majestoso. Candidata forte à melhor do disco. 
            A música seguinte tem decididamente um dos nomes mais bizarros que eu já vi por aí: “Dancing In The Temple (Of The Mad Queen Bee)”. Significados dúbios à parte, temos aqui uma ótima canção, super dinâmica, com riffs e solos corretíssimos e a sempre marcante interpretação de Robert Lowe nos vocais. A seguir voltamos para o Doom arrastado e muito pesado; ‘Waterwitch’ tem aquele andamento perfeito para te deixar ansioso, um pouco tenso talvez, quase como a trilha sonora de um filme de suspense. Outra incrível canção com pinta de clássico.
            Somos convidados para um passeio pelo misticismo egípcio com ‘The Lights of Thebe’, uma música que pega um pouco do lado clássico da banda com influências mais modernas, resultando em uma sonoridade muito interessante. Bastante épica e grandiosa também. A faixa que dá nome ao trabalho é a próxima, que parece com uma canção fúnebre, bastante melancólica apesar dos momentos mais impactantes. Destaque para refrão, mais simples, mas que compensa com beleza.
            ‘The Killing of the Sun’ e ‘Siren Song’ encaminham o desfecho da obra, ambas bastante variadas e criativas, mas sempre mantendo o cerne Doom que dá o tom no disco todo.
            E terminando temos a no mínimo intrigante ‘Black as Time’. É quase hipnótico o monólogo de abertura, com um sotaque britânico carregado, com o bater de ponteiros de relógio ao fundo, dissertando sobre o tempo (imaginei um rosto austero iluminado em um fundo escuro falando essas palavras, mas enfim). A parte musical não deixa a desejar, mando ver no peso e nas melodias grandiosas. Um encerramento digníssimo para um senhor disco.
            Se a banda vai parar realmente de lançar discos inéditos, mudar integrantes, parar de fazer turnês ou mesmo shows, isso eu não faço a menor ideia. Só o futuro nos dirá. Mas o que eu sei e afirmo com convicção é que esses respeitáveis senhores suecos continuam com bastante relevância no cenário metálico internacional, e com disposição poderiam render muito bem por mais alguns bons anos ainda, para aí sim pensarem uma aposentadoria definitiva e sem sinal de decadência.
            “Psalms for the Dead” é um excelente disco de Doom Metal contemporâneo, que tem os dois pés bem fincados no presente, usando sabiamente os elementos do passado sem soar datado, e que eu acredito que vai agradar os fãs dessa banda mítica. Pode garantir o seu já!

Nota 9


O Candlemass é:

Robert Lowe - Vocal
Lars Johansson – Guitarra
Mats Björkman – Guitarra
Leif Edling – Baixo
Jan Lindh – Bateria



Track List:

  1. Prophet
  2. The Sound of Dying Demons
  3. Dancing in the Temple (Of the Mad Queen Bee)
  4. Waterwitch
  5. The Lights of Thebe
  6. Psalms for the Dead
  7. The Killing of the Sun
  8. Siren Song
  9. Black as Time







terça-feira, 7 de agosto de 2012

Luca Turilli's Rhapsody - Ascending to Infinity


            Como não poderia deixar de ser, fiquei muito surpreso com essa história mal contada sobre a separação repentina do Rhapsody of Fire. Pessoalmente não vi o menor sentido em haver duas bandas diferentes para fazer exatamente o mesmo tipo de música. Ao ouvir este “Ascending to Infinity” precisei mudar um pouco de opinião.
            Parei para ouvir este disco com a menor das expectativas. Sinceramente. Eu estava esperando simplesmente mais um disco do Rhapsody of Fire, que apesar de muito bons lançamentos recentes, praticamente soasse idêntico aos discos anteriores. Com o primeiro vídeo, a capa do disco e track list essa impressão apenas cresceu. Esperava ouvir mais uma vez as mesmas melodias pomposas, super trabalhadas, com riffs um tanto progressivos e orquestrações imensas e muito épicas. Muito bumbo duplo e solos na velocidade da luz, uma abertura instrumental com alguma narração qualquer, além de uma baladinha folclórica em italiano e um super épico de quinze a vinte minutos fechando o disco. Nada mais do que isso.
            O curioso é que praticamente tem tudo isso aí mesmo, não fugindo ao “estilo” clássico que Luca Turilli criou no Rhapsody of Fire. O meu erro mesmo foi achar que ele soaria idêntico aos últimos discos.
            O que se nota “Ascending to Infinity” é uma vontade muito grande de Luca em soar cinemático, imponente, um pouco menos metal até, praticamente deixando de lado toda a marca progressiva que se ouviu na fase mais recente de sua antiga banda. De certa forma, não absoluta óbviamente, este é um disco de Power Metal mais genuíno, que aposta pesado em orquestrações e naquele espírito renovador que fez do Rhapsody do fim dos anos 90 um dos grandes nomes do Heavy Metal mundial.
            Já se nota alguma diferença na intro que abre o disco. ‘Quantum X’ tem lá uma narração também, mas bem mais discreta, ao mesmo em tempo que mescla algumas coisas que soam eletrônicas, bem modernas, com orquestrações e corais bem cinematográficos mesmo. Achei muito interessante, lembrando as anteriores sem ser exatamente a mesma coisa.
            A faixa seguinte é a que traz consigo o nome do álbum. Logo de cara pode-se reparar na claríssima intenção de Luca em voltar com tudo no estilo neoclássico que o consagrou no começo da carreira. Uma faixa mais “seca”, sem tantas orquestrações, mas que esbanja melodia. Porém não é nada extramente exagerado, tudo muito bem pensado sem ser forçado ou enjoativo demais. É uma excelente canção, apesar de flertar perigosamente com o clichê, mas não é o que de melhor pode oferecer a audição.
            ‘Dantes Inferno’ por sua vez já é bem interessante. Tirando o começo um tanto sem graça, a faixa cresce absurdamente no refrão, pegando forte na influência de ópera tipicamente italiana. Conta com um ótimo trabalho do teclado tocado pelo próprio Luca, que se alia à orquestra criando uma atmosfera realmente imponente e grandiosa. Essa sim uma dos belos destaques do disco.
            Uma faixa mais longa no meio do track list também algo bem pouco comum na discografia de Luca no Rhapsody. Sendo assim, esta ‘Excalibur’ com seus oito minutos dá uma espécie de reviravolta na audição, o que prende a atenção de quem ouve e assim foge do óbvio. Mais um ótimo refrão, carregada de riffs melódicos e uma bateria que faz seu trabalho corretamente, sem precisar apelar para velocidade exagerada para se destacar. Uma música de poucas mudanças de andamento, mas as poucas vezes são eficientes e bem colocadas. Destaque também para as discretas inserções de flautas folks, que não fariam falta, mas dão um quê a mais de qualquer forma. Mais uma ótima faixa, que demonstra a interessante revigorada que Luca quer dar a sua música.
             Uma boa ideia que surgiu em “From Chaos to Eternity” (o último do Rhapsody of Fire, de 2011) foi finalmente gravar uma música rápida em italiano. Luca não foi bobo e nos manda uma assim, desta feita ‘Tormento e Passione’. É uma bela mistura de uma música comum, rápida e melódica, com as antigas baladas na língua mãe. O resultado final é muito bom, fazendo justiça ao seu título, pois poderíamos dividir a músicas em duas partes, a rápida e pesada seria o tormento enquanto a segunda, cadenciada com muito sentimento, é a paixão. Uma boa sacada.
            ‘Dark Fate of Atlantis’ foi a primeira música divulgada desse projeto. Colaborou com meu mau julgamento sobre o que viria, pois me pareceu (e continua) chata, clichê e bem desnecessária. Muito igual a outras coisas.Salvaria apenas o coral do refrão, pois esse sim é algo de nota.
            Mas logo em seguida vem uma preciosidade, que definitivamente me fez ver o trabalho com um todo com outros olhos. Um cover, sim, um cover, mas que ganhou uma versão fantástica e empolgante. ‘Luna’, originalmente do cantor pop Alessandro Safina, recebeu uma roupagem mais sinfônica, sem perder a aura pop, sendo de um feeling extraordinário, naquela paixão que só a língua italiana consegue dar à uma canção. Um acerto em cheio, uma ideia de gênio que merece ser aplaudida. Não haveria forma mais correta de fugir do comodismo.
            ‘Clash of the Titans’ poderia muito bem fazer parte do “Power of the Dragon Flame” (2002). Épica, de refrão empolgante e com uma intensidade realmente impactante. Aqui os ditos riffs progressivos dão as caras, sutilmente, mas se fazendo ouvir. Outra coisa que remete ao outro Rhapsody são as breves passagens de vocal mais agressivo do vocalista Alessandro Conti (falo dele em especial mais adiante), que Fábio Lione andou se aventurando a fazer ultimamente. No geral uma ótima faixa que encaminha o final.
            O encerramento é a bastante longa “Of Michael The Archangel And Lucifer’s Fall”. É uma faixa muito boa sim, repleta de tudo o que se ouviu ao longo do disco e essa conversa de sempre. Não traz absolutamente nada de novo, feita no molde que suponho Luca ter guardado em um armário de sua casa. É um pouco frustrante você ouvir um disco que desde o começo se empenha em não ser tão óbvio terminar com essa obviedade de dezesseis minutos. Eu gosto de músicas assim, gosto mesmo, mas essa em especial não me disse nada. Mas de qualquer forma não compromete a proposta do álbum como um todo.
            Sobre Alessandro Conti: atuação apenas satisfatória. Nesse estilo em que ele canta existem centenas iguais, e pessoalmente não acho que ele se destaque muito. Ainda mais pelo fato dele ter exatamente o mesmo sotaque italiano do Fábio Lione, o que me desagrada um pouco.
            “Ascending to Infinity” me surpreendeu. Bastante. No seu conjunto passa longe do brilhantismo ou genialidade, mas com momentos individuais que são realmente fantásticos, mas consegue ser competente e extremamente bem feito e apaixonado. Tem lá suas irregularidades talvez, e um track list construído ao redor de uma carcaça de um do Rhapsody of Fire, porém esse ar cinemático muito mais latente e o affair intenso como neoclássico compensam bem essas ligeiras falhas, resultando assim em um trabalho que deve agradar bastante os entusiastas desse estilo.
            Se você ainda é fã devoto do metal sinfônico vai amar este disco, senão for tanto assim pode muito bem gostar dele, mas se não gostar do estilo ou não tiver mais paciência para isso, é melhor passar longe.
            Enfim, estava pronto para descer a lenha nesse disco, mas Luca me fez tostar um pouco a língua. É muito bom, porém podia ser melhor.

Nota 8

O Luca Turilli’s Rhapsody é:

Alessandro Conti – Vocais
Luca Turilli – Guitarras e teclados
Dominique Leurquin – Guitarras
Patrice Guers – Baixo
Alex Holzwarth – Bateria

Track List:

  1. Quantum X
  2. Ascending to Infinity
  3. Dante's Inferno
  4. Excalibur
  5. Tormento e Passione
  6. Dark Fate of Atlantis
  7. Luna (Alessandro Safina cover)
  8. Clash of the Titans
  9. Of Michael the Archangel and Lucifer's Fall