terça-feira, 27 de março de 2012

Blind Guardian - Memories of a Time to Come


            Eu sou do tipo de apreciador de música que implica seriamente com coletâneas, Bests Of, Greatest Hits e adjacências, as quais geralmente são lançadas por gravadoras sedentas por sugar ao máximo cada centavo que seus artistas possam vir a arrecadar ou por bandas decadentes que precisam apelar para o passado na intenção de continuarem em destaque. Porém, esta coletânea lançado em janeiro passado pelos alemães do Blind Guardian é algo completamente diferente, muito longe de ser um caça-níquel qualquer, um verdadeiro presente aos seus devotos fãs que angariaram ao longo de vinte e cinco anos de uma bem sucedida carreira.
            Seria muito fácil simplesmente pinçar meia dúzia de clássicos e fazer um disco de retrospectiva, sem nenhum atrativo a mais nisso do que uma capa bonitinha. Mas não, o que o Blind Guardian fez foi se enfurnar no estúdio (deles próprios, diga-se de passagem) e re-trabalhar minuciosamente cada uma das faixas selecionadas, criando assim um material que, mesmo não sendo inédito, soasse novo e muitíssimo mais interessante. A proposta é inteligente: pois fazendo novas mixagens, re-trabalhando e até mesmo re-gravado algumas dessas músicas, podemos notar claramente como o som da banda foi mudando no decorrer dessas duas décadas e meia, reconhecendo a sonoridade das raízes assim como todo o clamor épico da atualidade.
            Todas as fases do conjunto foram devidamente rememoradas; desde o speed metal tipicamente oitentista dos primeiros trabalhos, passando pelo powermetal que marcou uma geração inteira nos anos noventa até chegar ao que ouvimos atualmente: um som que alia peso, velocidade e um caráter épico impressionante, que se usa intensamente de corais grandiosos e orquestrações de impacto, em um mix único e marcante, que caracteriza o Blind Guardian como uma das bandas mais criativas e originais da atualidade.
            Como eu havia mencionado antes, este “Memories of a Time to Come” é um verdadeiro presente aos fãs da banda, que não vão adquirir apenas um trabalho aleatório apenas para ter a coleção completa, mas sim o resultado de um trabalho árduo, que denota respeito e carinho pelos fãs. E ainda mais do que isso: a prova de que eles conseguem se reinventar constantemente, fugindo da mediocridade e do senso comum, pegando algo que já existia e o transformando em algo único e reluzente.
            A versão regular traz dois discos com o que melhor os bardos já compuseram (apesar de que, evidentemente, sempre irá faltar essa ou aquela música que pode ser preferida de um fã). O track list não é em ordem cronológica, mas sim seguindo o padrão da banda: as músicas se encaixando perfeitamente, com coerência e sem deixar a audição cansativa. Já a versão deluxe traz os mesmos dois discos e mais um de bônus, que conta com versões novas das jurássicas demos do Lucifer Heritage, primeiro nome da banda, assim como também versões demos de outras músicas da discografia regular.
            Como vocês podem muito bem notar, eu sou um imenso fã da banda, um aficionado talvez, e sendo assim adorei todas as faixas do trabalho e prefiro não apontar essa ou aquela como sendo a melhor. Porém eu digo que gostei muito dos remixes de ‘Nightfall’ e ‘The Last Candle’, a nova versão do hino absoluto e indubitável ‘Valhalla’ (obviamente também contando com o lendário pai do powermetal, Kai Hansen); a emocionante versão orquestral de outro hino incontestável, ‘The Bards Song – In The Forest’ e as regravações de ‘The Bards Song – The Hobbit’ e da espetacular, e a minha favorita de todos os tempos, ‘And Then There Was Silence’.
            Espero que quem venha a ler estas linhas não me considere tendencioso, um fã que gosta de qualquer coisa que a banda faça mesmo que fosse ruim. Muito pelo contrário, se este fosse apenas um item para arrancar dinheiro dos admiradores da banda, eu seria o primeiro e falar mal e contestar a validade da ideia. Mas não é o caso, pois esta coletânea é na verdade um legado que esses alemães já quarentões prestam aos seus fiéis fãs, aos de longa data e aos que pegaram o bonde andando, um marco importante na jornada de sua carreira, para ser longamente lembrado e celebrado. 
           Sendo assim, este é um item obrigatório na coleção de todos os fãs da banda. Não faça feio e garanta já o seu que vale muito a pena
            Parabéns Blind Guardian! E que venham outros vinte e cinco anos de aventuras pela frente!


Nota 10

O Blind Guardian é:

Hansi Kürsch – Vocais
André Olbrich – Guitarras
Marcus Siepen – Guitarra
Frederik Ehmke – Bateria


Track List:

CD 1

  1. Imaginations From The Other Side [Remix 2011]
  2. Nightfall [Remix 2011]
  3. Ride into Obsession [Remix 2011]
  4. Somewhere Far Beyond [Remix 2011]
  5. Majesty [Remix 2011]
  6. Traveler in Time [Remix 2011]
  7. The Last Candle [Remix 2011]

CD 2

  1. Sacred Worlds [Original Version]
  2. This Will Never End [Remix 2011]
  3. Valhalla [2011 Version]
  4. Bright Eyes [Remix 2011]
  5. Mirror Mirror [Remix 2011]
  6. The Bard’s Song (In the Forest) [Orchestral Version]
  7. The Bard’s Song (The Hobbit) [Re-recorded]
  8. And Then There Was Silence [Re-recorded]








segunda-feira, 5 de março de 2012

Eluveitie - Helvetios

            Sendo talvez uma das bandas mais icônicas da nova geração do Folk Metal, o Eluveitie entra em 2012 lançando seu primeiro disco conceitual, e quinto disco de inéditas, intitulado “Helvetios”. Depois do muitíssimo bem recebido “Everything Remains As It Never Was” (2010), a banda fez uma bem sucedida turnê ao redor do mundo, passando inclusive por terras brasileiras duas vezes antes do lançamento do novo trabalho.
            Quando eu comentei o disco de 2010, havia dito que a banda alcançara um equilíbrio perfeito entre as sonoridades de seus três trabalhos anteriores, resultando em um álbum coeso e que definitivamente cravara o nome dos suíços no cenário do Folk Metal. Pois bem, mas agora com o novo disco a banda conseguiu me surpreender mais uma vez. Eu sinceramente esperava que se seguisse o molde de “Everything Remains...”, naquele mix de sonoridades atingido, porém o que ouvi logo de cara na primeira audição foi que eles conseguiram incrementar ainda mais o seu som, moldando dessa forma uma sonoridade que se torna mais única e representativa ainda. Um ponto positivo já de partida.
             Sendo este “Helvetios” um disco conceitual, contando a história das guerras gaulesas contra os romanos, nada mais correto do que começar os trabalhos com uma narração, aqui chamada apenas de ‘Prologue’. A voz de um homem velho, que aparenta ter vivido e visto muitas coisas, com ao fundo o som do mar, dá o clima dessa abertura, que emenda com a faixa-título quando começam a soar as flautas que se tornaram marca registrada do Eluveitie.
            E esta faixa-título já dá amostras do que eu dizia sobre mais uma vez conseguir balancear todas as fases da banda. Temos bastante peso e agressividade, corais ao fundo, muitas flautas e outros instrumentos exóticos, sintetizando muito essa proposta helvética de fazer metal folclórico.
            Logo em seguida temos a fantástica ‘Luxtos’, que é a minha favorita. Mais peso e mais folk, tudo perfeitamente ajustado em uma química irretocável. O refrão espetacular em gaulês (eu ao menos acredito que o seja, me corrijam se estiver errado) é absolutamente empolgante, que te faz cantarolar junto mesmo não tendo a menor ideia do que se esteja cantando. Com certeza um dos grandes destaques.
            Um pouco mais cadenciada é a faixa seguinte, ‘Home’. Essa sim parece um pouco mais com o que se ouviu no disco anterior, mas mesmo assim tem uma aura própria muito interessante. Menos veloz, porém com o mesmo peso e vigor das demais. Mais uma bela faixa e muito inspirada e ‘Santonian Shore’, com a veia folk mais presente no começo e que alterna com momentos de puro death metal melódico ao longo do seu caminho. Bastante criativa e outros dos bons momentos do disco.
            ‘Scorched Earth’ parece como um mantra druida que invoca a sabedoria dos ancestrais celtas, pedindo ajuda na violenta luta contra os opressores romanos. Claramente uma reminiscência do disco experimental “Evocation I: The Arcane Dominion” (2009), chegando quase a ser hipnótica, mística e mágica. Uma faixa que provavelmente desagrade alguns fãs, mas que pessoalmente eu gostei muito e que se encaixa na proposta conceitual do disco.
            Logo a seguir a pancadaria volta à tona, ‘Meet The Enemy’ talvez seja a canção mais metal do disco, com passagens folk mais comuns, digamos assim, porém eficientes e sempre bem elaboradas. Uma boa faixa, mais reta e pesada, porém não chega a ser um dos maiores destaques. E nessa mesma batida vem ‘Neverland’, também direta e reta, com boa pegada folk e um ótimo refrão. Mas é preciso dizer que talvez essa dupla represente o momento de menos brilho no álbum.
            Porém a audição ganha nova força agora com a excepcional ‘A Rose For Epona’. É uma faixa mais light, com flertes com o pop para alguns mais extremistas, mas dizer isso seria tolice, pois mesmo não sendo nada ortodoxa, essa é uma canção com vigor, pegada e peso na medida certa. E o fato de ela ser cantada inteiramente por Anna Murphy garante um quê a mais, pois isso de fato é algo incomum no repertório da banda.  Mais um grande e empolgante refrão. Outra das minhas favoritas.
            O que foi tentado em ‘Meet the Enemy’ resultou em melhor fruto com ‘Havoc’, muito pesada e agressiva, com a faceta do folk, baseada principalmente em violinos acelerados, construída de uma maneira mais notória e impactante. Decididamente uma que deu consideravelmente mais certo que a antes citadas. Uma peça furiosa e repleta de energia.
            ‘The Uprising’ é outra boa faixa, mas que caminha por meios mais comuns e que não tem grandes destaques a comentar.  ‘Hope’ é um interlúdio instrumental bonito, mas não de grande notoriedade. Mas então temos uma pérola, o tiro curto ‘The Siege’, de peso cavalar, violinos bem encaixados e backing vocals de Anna muito interessantes.
            Encaminhando o derradeiro fim, nos chega ‘Alesia’, que propicia um dueto muito bom entre Chrigel e Anna, mesclando a beleza da voz feminina com a ferocidade da masculina de uma forma solta e tranqüila sem virar aquele clichê típico. Mais uma que mantém o nível do disco alto. 
            Mais um interlúdio, narrado dessa vez, para a coleção: ‘Tullianum’. E esta se junta com ‘Uxellodunon’, canção competente apesar do pouco que tem a oferecer de novo. É de fato uma boa canção, mas talvez fosse preciso uma faixa de maior destaque pra encerrar as “músicas em si” do disco.
            E a história termina como começou. ‘Epilogue’ nos traz de volta o narrador concluindo seu relato, para em seguida uma breve e bela sessão instrumental aliada a um coro deu o clima definitivo de desfecho. Da forma como foi, não poderia ser melhor.
            É um disco de muitas faixas, com alguns interlúdios que poderiam ser tranquilamente cortados. Mas mesmo assim de forma alguma é uma audição cansativa ou que se arrasta demais, muito pelo contrário até, sendo absolutamente agradável e empolgante. Apesar de um ou outro deslize afirmo que “Helvetios” já esteja brigando pelo topo da discografia do Eluveitie, sendo um disco forte, firme e muito coeso, denotando uma banda criativa e irrequieta que não cansa em esmerar mais e mais a arte que faz.
            É provável que tenham notado que durante o texto não mencionei nenhum destaque individual entre os músicos. Preferi não o fazer por em uma banda de sete membros, e tão entrosados e afinados entre si, acredito que seria injusto apontar os destaques individuais de cada músico. 
            Por fim, um senhor disco que os amantes do Folk Metal com certeza apreciarão muito. Compre e não se arrependa!

O Eluveitie é:

Chrigel Glanzmann – Vocals, Acoustic guitars, Mandolin, Uilleann pipes, Bodhrán, Tin and low whistles, Gaita
Meri Tadic – Fiddle, Vocals
Merlin Sutter – Drums
Ivo Henzi – Guitars
Sime Koch – Guitars, Vocals
Anna Murphy – Hurdy gurdy, Vocals
Päde Kistler – Bagpipes, Whistles
Kay Brem – Bass


Track List:

  1. Prologue    01:24
  2. Helvetios   04:00
  3. Luxtos      03:56
  4. Home       05:16
  5. Santonian Shores     03:58
  6. Scorched Earth      04:18
  7. Meet the Enemy   03:46
  8. Neverland    03:42
  9. A Rose For Epona   04:26
  10. Havoc   04:05
  11. The Uprising    03:41
  12. Hope   02:27
  13. The Siege   02:44
  14. Alesia   03:58
  15. Tullianum   00:24
  16. Uxellodunon    03:51
  17. Epilogue   03:16

Nota   9