sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Angra - Aqua

       Nos últimos quatro anos o futuro do Angra ficou envolto por muitas dúvidas. “Aurora Consurgens” fora um bom disco até, mas pouco inspirado, e que de certa forma mostrava uma banda que estava começando a se desgastar. E ainda aconteceram problemas com o empresário, envolvendo questões jurídicas e processos na justiça pela posse do nome da banda (o que obrigou-os a ficar parados por ba parte desse tempo).
     Os integrantes foram se envolvendo em outros projetos; Edu com seu Almah tendo a parceria de Andreoli, Rafael com o Bittencourt Project, Kiko com seus ótimos discos solo instrumentais e Aquiles (que acabou por deixar a banda) dedicou-se exclusivamente ao Hangar. E essa saída de Aquiles deu brecha para muitas especulações, que acabaram se tornando uma grande surpresa com o retorno de Ricardo Confessori às baquetas da banda depois de mais de 10 anos fora, tendo formado, desmontado e remontado o Shaman.  Essa nova formação não entrou logo em estúdio, fazendo antes uma muito interessante turnê ao lado do Sepultura, outro gigante do metal nacional.
      E depois de tantos acontecimentos ao longo desses anos a banda finalmente voltou a trabalhar em material inédito. O quinteto se reuniu no sítio de Confessorio no interior paulista, assim como fora feito 15 anos antes no processo de composição do clássico “Holy Land”, para dar forma final as ideias reunidas para este “Aqua”, sétimo registro da carreira destes monstros do metal brasileiro.
    O tema escolhido para ser o conceito do álbum foi a peça “A Tempestade” do dramaturgo britânico William Shakspeare, sua última peça que se tem conhecimento e também considerada por vários sua obra-prima. É uma história de vingança, arrependimento, traições magia e seres sobrehumanos. Liricamente falando, as letras foram muito bem construídas, não extamente em forma linear como na história, mas fisgando momentos oportunos dela, de seus personagens e seus dramas na ilha de Próspero, que sedento de vingança afunda o navio de seus inimigos com uma tempestade e o lança na ilha, para enlouquece-los.
    A bolacha começa com a intro 'Viderunt te AquÆ', um interessante arranjo de vozes do coral Rosa Vocal (que gravava seu disco no mesmo estúdio que a banda) com sons e efeitos que dão todo o clima do que virá pela frente no disco. Na sequência nos chega 'Arising Thunder', um metalzão melódico acelerado, típica faixa de abertura do Angra, com um grande refrão e andamento bastante interessante. Quando foi divulgada como single causou estranahmento entre alguns fãs, pois tem algumas quebras que soam realmente estranhas a primeiro momento, mas que com audições mais seguidas se mostra com mais possibilidades. Uma bela faixa, mas não o maior estaque do disco.
    A presença de Confessori se mostra mais latentemente em 'Awake from Darkness', que já começa com uma batida que remete a ritmos nordestinos, acompanhados por riffs que criam todo aquele clima étnico tão característico da banda. Outra faixa extraordinária, essa sim um dos grandes destaques, que dá novos exemplos da versatilidade desses músicos. Logo em seguida vem a belíssima balada 'Lease of Life'; admito que na primeira vez que ouvi não tinha gostado dela, mas assim que tive o CD em mãos minha opinião mudou completamente, é uma das músicas mais belas já compostas pela banda, com muito feeling e uma interpretação fantástica de Edu Falaschi (que também assina a composição dela), nota 10 individualmente!
    'The Rage of the Waters' é um petardo. Confessori se mostra bastante versátil também, alternando momentos de velocidade e técnica com sua tradicional levada étnica mais cadenciada. Tem um refrão pegajoso e ótimos riffs e linhas de baixo. Edu mais uma vez mandando muito bem. E então chegamos em 'Spirit of the Air', uma faixa belíssima, uma daquelas baladas épicas que começam baixas e vão crescendo até explodir num refrão fabuloso. Madura, elegante e de extremo bom gosto, pode não ser aquele metal que muitos fãs anseiam, mas musicalmente é uma faixa primorosa.
     'Hollow' talvez seja a mais pesada do disco. Seu início tem riffs de baixo incríveis de Andreoli (que é um dos destaques do disco todo, dando provas de ser o melhor baixista de nosso país), uma pegada suja, a lá Thrash, que depois desanda num refrão bem melódico, e ainda tem mais alguns elementos étnicos espalhados por todo seu andamento. Não é a melhor, mas é muito boa. 'Monster in her Eyes' é outra pérola, na mesma linha de 'Spirit of the Air', lindíssima, elegante, com fraseados de guitarra menos complexos mais com muito feeling; e novamente Edu nos dá uma aula de interpretação.
      Chegando na reta final do disco nos deparamos com 'Weakness of a Man'. Começa com uns violões bem brasileiros e percussões (todas no disco executadas por Guga Machado), bateria cadenciada e vocal bem solto e leve. O refrão é muito bom, fácil de se acompanhar e esbanja bom gosto; outra faixa excelente. E por fim chegamos na incrível 'Ashes', composição de Kiko Loureiro, que segundo ele mesmo já é bem antiga até, mas só finalizada e gravada atualmente. Seu início é como uma peça para piano de Chopin, num tom melancólico, intimista, mas que vai tomando corpo até chegar numa ponte e num refrão grandiosos, que são sucedidos por uma bonita parte cantada por Débora Reis num tom bem baixo e charmoso, que depois dá espaço para um solo que esbanja feeling e para o vocal inspirado que vai diminuidno até sumir, como se fosse Próspero num barco que some no horizonte do mar, deixano aquela ilha para trás.
      A arte gráfica é assinada por Gustavo Sarzes, que fez um primoroso trabalho na parte técnica; mas teria sido muito interessante se houvesses notas explicativas junto as músicas, relacionando-as com as passagens da obra shaksperiana, mas de qualquewr forma isso não desvaloriza a arte, que é de fato muito bela.
       Enfim, este 'Aqua' não é nada inovador, revolucionário ou absolutamente inquestionável, mas é um disco incrível, de músicos muítissimo talentosos e maduros, que sabem absolutamente o que querem, e dão sinais de serem uma banda que tem muita lenha para queimar. Um dos grandes discos de 2010!

O Angra é:

Edu Falaschi – Vocais
Kiko Loureiro – Guitarra
Rafael Bittencourt – Guitarra
Felipe Andreoli – Baixo
Ricardo Confessori – Bateria

Track List:
  1. Viderunt te AquÆ (Rafel Bittencourt) [1:00]
  2. Arising Thunder (Edu Falaschi/Kiko Loureiro) [4:52]
  3. Awake from Darkness (Edu Falaschi/Felipe Andreo/Rafael Bittencourt) [5:54]
  4. Lease of Life (Edu Falaschi) [4:33]
  5. The Rage of the Waters (Rafael Bittencourt/Ricardo Confessori/Felipe Andreoli) [5:33]
  6. Spirit of the Air (Edu Falaschi/Kiko Loureiro) [5:23]
  7. Hollow (Felipe Andreoli/ Rafael Bittencourt) [5:30]
  8. Monster in her eyes (Rafael Bittencourt) [5:15]
  9. Weakness of a Man (Kiko Loureiro/Rafael Bittencourt) [6:12]
  10. Ashes (Kiko Loureiro) [5:11]


Site oficial: www.angra.net

Eu comprei o meu no site da Hellion Records, paguei 22 reais. Não dá pra dizer que está caro ;D



E dia 5 de dezmebro tem show deles em Porto Alegre. No dia seguinte comento como foi!

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