terça-feira, 16 de novembro de 2010

Blind Guardian - At the Edge of Time


            Depois de quatro longos anos de uma espera torturante, temos para ouvir o tão aguardado novo disco de inéditas do Blind Guardian. A banda não precisa de apresentação nenhuma, já que uma carreira que beira os 25 anos recheados de músicas que viraram hinos entre fãs tem auto-credencias o suficientes para dizer a que veio. Este “At the Edge of Time” é uma pequena obra-prima de Blind Guardian. Sim, uso este termo: Blind Guardian. Pode soar estranho e muito pretensioso, mas para mim, essa maravilhosa banda extrapolou os limites do mero metal, atingindo um nível de maturidade musicais e artísticas tão elevadas que alcunha-los simplesmente de ‘banda de metal’ seria desmerecer um trabalho tão incrível e maravilhoso. A banda tem um estilo tão único, tão característico, tão unicamente só seu que creio poder me dar ao luxo de fantasiar que criaram uma subdivisão do metal com seu próprio nome.
             Temos mais peso (Algo que a maioria dos fãs sentiu falta no antecessor “A Twist in a Myth”), inúmeros momentos épicos e emocionantes, velocidade, vocais rasgados, vocais limpos brilhantes, solos inspirados, orquestrações, corais bombásticos e uma profusão de elementos folk e místicos que dão um clima espetacular ao álbum. Composições inspiradas, cheias de vigor, feeling, intensidade. Hansi, os guitarristas Andre e Marcus, e o agora mais a vontade baterista Frederick formam um grupo entrosado, coeso e com uma criatividade que parece não ter fim, que nos presenteou com o talvez melhor disco do ano.
            A introdução cinematográfica de ‘Sacred Worlds’ é de arrepiar. As vocalizes que antecedem o início do instrumental nos carregam na expectativa do que esta por vir (Por mais que já conhecêssemos a música nas suas duas outras versões, a editada da revista Metal Hammer e do jogo Sacred II – The Fallen Angel). O refrão desta música é imponente, grandioso, levando consigo a essência do termo “épico”. Provavelmente será um momento emocionante na próxima turnê ouvir uma multidão cantando-o a plenos pulmões. Em suma: uma peça fabulosa, de ritmo quase marcial, um verdadeiro hino de guerra empolgante e inspirador.
            E a cidade de Tanelorn volta à cena novamente! Dezoito anos depois da clássica “The Quest for Tanelorn”, a mística cidade criada pelo escritor inglês Michael Moorcock que some e reaparece em meio ao tempo e ao espaço dá vida a ‘Tanelorn (Into the Void)’. Uma faixa de riffs cortantes, acelerada e com um refrão poderoso entoado por uma interpretação inspirada de Hansi (Que perdeu os cabelos, mas não pique). Lembra bastante a fase do “Imaginations From The Other Side” (1995).
            ‘Road of no Realese’ soa melancólica, tem uma letra sombria, que conta uma história trágica, com vários personagens que desenrolam um tipo de diálogo bastante perturbador. É uma ótima faixa, uma semi-balada de contornos épicos, mas que tem uma digestão um pouco mais lenta, mas que com ouvidas mais seguidas e apuradas vai mostrando todo o seu valor.
            A próxima é para os saudosistas da fase mais speed metal da banda. ‘Ride Into Obsession’ já começa numa velocidade estonteante, nos atirando de um lado para outro, numa vontade absurda de bangear loucamente. O andamento do vocal é espetacular, Hansi mais uma vez nos brinda com uma interpretação irrepreensível, que desanda num refrão impressionante, de se cantar junto até perder o fôlego.
            Como de costume temos a balada medieval. ‘Curse My Name’ é uma música linda, repleta de dedilhados, percussões e vários instrumentos acústicos que dão um clima mágico a ela. Eu duvido que eles consigam algum dia criar outro clássico como “The Bards Song – In The Forest”, que seja entoado unissonamente por toda a platéia dos shows, mas de qualquer forma, as baladas que apareceram nos discos seguintes são todas de beleza inquestionáveis, singelas, tocantes e que sempre irão salientar a veia medieval dos bardos alemães.
            Eu digo sem vergonha nenhuma: emocionei-me muito com o refrão de ‘Valkyries’. É uma música absurdamente linda, um tanto melancólica, mas que transborda feeling. Um começo com chuva de chuva e trovões distantes, ficou na minha cabeça a imagem de um campo de batalha arrasado onde os bravos guerreiros agonizam a espera da glória do Valhalla. O instrumental da música é épico, tocante, que evoca os deuses e as criaturas da mitologia nórdica. E a mitologia dos países escandinavos é de certa forma recorrente na temática do Blind, passando pelo clássico absoluto ‘Valhalla’ do “Follow the Blind” e também dando as caras na bela balda ‘Skalds and Shadows’ do último disco. Enfim, uma das melhores do disco todo.
            Depois temos a interessantíssima ‘Control the Divine’, que provavelmente seja uma das referências à obra “Roda do Tempo” de Robert Jordan (Um escritor norte-americano pouco conhecido no Brasil) que estão neste disco. Uma música veloz, com bastante pegada, que começa parecendo um pouco confusa, mas que depois emenda um refrão muito bom. A banda manteve os fãs inteirados sobre o processo de produção vi Twitter, e em algum Tweet mencionaram que esta música em especial rendeu muito trabalho, tão intenso que parecia que estavam querendo controlar algo que fosse obra de Deus, por isso seu nome. Uma sacada interessante.
            Mais uma balada! E uma balada de respeito também, diga-se de passagem. ‘War of the Thrones’ é baseada no livro “A Game of Thrones”, que é o primeiro livro de uma série de 7 que compõe a saga de fantasia “A Song of Ice and Fire”, do escritor norte-americano George R. R. Martin (outro autor que infelizmente não é muito conhecido no Brasil). Uma música belíssima, charmosa, que talvez tenha um nome forte demais, mas que proporciona um ótimo equilíbrio para o disco, uma respirada bem profunda para se preparar para o que nos aguarda na reta final.
            ‘A Voice in the Dark’ tem uma pegada tão intensa que poderia facilmente fazer parte do track-list do “Imaginations From the Other Side” (1995). É o single do disco e conta com um vídeo clipe muito bacana (Apesar de ser um tanto tosco em algumas partes, porém muitíssimo bem produzido). Esta também é referência s séria “A Song of Ice and Fire”, falando sobre os obscuros sonhos de um dospersonagens principais da história. Outro grande destaque do disco, talvez a melhor e que com certeza estará no set da próxima turnê, e com certeza absoluta será brada com entusiasmo pela platéia.
            E para fechar com chave de ouro temos a obra-prima ‘Wheel of Time’. Li uma entrevista em algum lugar onde eles diziam que iriam fazer uma música que unisse o caráter homérico e épico de ‘And Then There Was Silence’ com o peso e a velocidade de ‘The Script for my Requiem’, e pode-se afirmar com certeza absoluta que eles conseguiriam. Obviamente também é referência a série “Roda do Tempo”, e isso absolutamente claro onde diz: “Just keep on spinning, there's no beginning'”, já que na história o mundo não tem começo nem fim, foi criado pela roda do tempo que é alimentada pela magia da verdadeira fonte. Um espetáculo de música, repleto de orquestrações, elementos árabes, corais e instrumentos exóticos. Uma verdadeira fusão de tudo que se ouviu nas outras faixas, numa química perfeita, balanceada e que resultou num produto final esplêndido, absurdamente épico e cheio de peso e velocidade.
            O disco dois traz versões demos e orquestrais, mais o cover ‘You’re the Voice’ (De John Farnham) numa edição feita para as rádios européias. Um material bastante interessante, denotando versatilidade e dando mostras de como é o processo criativo entre o começo e o fim do trabalho nas músicas.
            Por fim, um trabalho maravilhoso, esmerado, onde eles se esforçaram ao máximo para garantir aos fãs um produto de altíssima qualidade. Talvez não se torne um clássico indubitável entre todos os fãs, mas mesmo assim merece um 10 sem ressalvas.
            E antes de terminar eu ainda preciso dizer algumas coisas: estas linhas foram escritas por um fã apaixonado pela banda. De fato não sou nenhum crítico renomado, abalizado e cheio de credenciais que me dêem status de comentar o trabalho de alguém. E exatamente por isso talvez muita gente que venha a ler isto aqui me alcunhe de puxa-saco, fã cego, que baba por qualquer coisa que a banda faça, mesmo que fosse ruim.
            Tenho visto muitos comentários por aí de gente que se diz “old-school”, da “velha guarda” do metal, criticando muito durante a banda, falando mal do disco (E mesmo dos trabalhos mais recentes também), exigindo que a banda devesse continuar no speed metal dos dois primeiros discos, defendendo que aquilo era música de homem, sem frescuras, sem nerdices. Bem, é opinião, não poderia eu ir contra ela. Mas algo é factual: se o Blind Guardian tivesse seguido somente naquela linha, teria desaparecido no mar de bandas que fazem um som exatamente igual aquele, e jamais acabaria sendo a banda de culto que é hoje, idolatrada, com fãs tão fiéis e com certeza mão teria seu nome no hall as maiores bandas de metal (Não creio que coloca-los entre gigantes do metal seja exagero, pois quem só considera Black Sabbath, Iron Maiden, Judas Priest e Metallica como gigantes é muito poser).
            Sendo assim, se não gostar do álbum, muito bem, que o seja, mas não desmereça o trabalho duro da banda, que proporcionou um material de uma qualidade absurda para seus fãs. Só sendo muito cego para querer negar que o trabalho está perfeito, mesmo não se identificando com o resultado.  Bancar o troll machão e pagar de mau por ouvir metal é assinar atestado de retardo mental.
            Por fim: “Bards you are, Bards you will be, and Bards you have always been..” 

Blind Guardian rules! 


(Postado originalmente no Blog The Discipline of Steel, do meu amigo Pikachu Sama)

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