quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Pain of Salvation - Road Salt Two

         Daniel Gildenlöw e sua trupe estão de volta. O Pain of Salvation é uma das bandas mais representativas da cena progressiva na atualidade, sempre lançando discos ousados, de temáticas variadas e sempre carregadas de profundidade e reflexão. Daniel é um músico inquieto, que está sempre em busca de novas possibilidades para sua arte, jamais se acomodando em uma única sonoridade, desbravando novas e obscuras águas e quase sempre desafiando os admiradores de seu trabalho a embarcar em uma nova aventura.
     O que temos agora é a segunda parte do disco lançado ano passado, “Road Salt One”, que recebe o sub-título Ivory. Este “Road Salt Two” (Ebony), como pode-se reparar tanto pelas capas quanto pelos sub-títulos, é uma espécie de antagonismo do trabalho anterior. A concepção é a mesma, apostando alto em psicodelismo e na veia latente dos anos 60 e 70 que se ouviu na primeira parte da obra, porém com um certo quê mais obscuro, um tanto agoniado talvez, com ares mais complexos e divagantes. Uma comparação interessente seria dizer que a primeira metade é quase reta, enquanto que a segunda é tortuosa e cheia de revés que atiçam ainda mais a imaginação do ouvinte.
       A introdução 'Road salt Theme' é uma peça retrô, de estilo cinematográfico. Realmente linda e logo dá o tom do que há de se ouvir mais adiante. 'Softly She Cries' vem na pegada Hard Rock setentista que já se ouviu em RS1, com guitarras de timbres marcantes e repletas de distorção e um clima denso e psicodélico.
     Ainda mais anos 70 que a faixan anterior, 'Conditioned' já começa com uma levada de guitarra empolgante. É uma canção menos complexa, mas que compensa bastante pelo belo ritmo balançante e os momentos viajantes propiciados pelas ótimas linhas de teclado. 'Healing Now' é uma canção bem dizer acústica, com uma profusão de dedilhados e notas trêmulas que flutuam de uma forma encantadora. Uma ótima faixa com uma excepcional interprteção de Daniel nos vocais.
      O psicodelismo vem com tudo em 'To the Shoreline', que munida também de elementos bem progressivos resulta numa faixa cativante, com Daniel cantando muito bem, com interpretação marcante, emotiva e repleta de feeling. Assim como o RS1 teve momentos que remetiam aos trabalhos mais antigos da banda, novamente temos uma faixa com cara mais tradicional: 'Eleven'. Bem pesada, com altos e baixos impressivos e carregada de uma atmosfera tensa. Mas aomesmo tempo consegue agregar as características da nova sonoridade da banda. Nota para a destacada atuação do baterista Leo Margarit.
        Logo em seguida temos a uma muito simples, porém lindíssima, '1979'. É curta, pouco complexa e sem grandes atrativos técnicos, mas que conta com Daniel mais uma vez se superando na forma de dar vida à canção com sua voz, alguns instrumentos mais exóticos discretamente colocados e uma aura de encantadora simplicadade. E ainda temos a letra maravilhosa, que consegue tocaros sentimentos de qualquer pessoa que já deixou a adolescência para trás.
     'The Deeper Cut' é outra que remete a progressividade original da banda. Também tem um ar pesado, nervoso e denso. Belas linhas de guitarra, baixo satisfatóriamente atuante e a bateria destacada uma nova vez, ditando com maestria o ritmo da música. E nesse mix de passado e presente que marca tão profundamente a fase atual do Pain of Salvation chega 'Mortar Grind' (que já constava no EP “Linoleum” do começo do último ano). Pode-se dizer que seja a mais pesada do disco, com mais cara de metal, porém repleta de momentos calcados em épocas passadas e ainda em outras pirações de Daniel Gildenlöw.
       'Through the Distance' é irmã gêmea de '1979', ambas se completando perfeitamente. O mesmo clima, a mesma emotividade, a mesma sensação de saudade. Outra pérola.
      Chegando próximo ao finalda viagem, temos a mais progressiva e mais diversificada canção do disco: 'The Physics of Gridlock'. Um pequeno épico de oito minutos, divididos em três partes distintas. Temos peso, distorção, devaneios e psicodelismo a valer, alternando-se com sonoridades exóticas e uma certa atimosfera de júbilo e grandiosidade, realmente o encerramento de uma saga. O grande e mais substancial atrativo é a útima parte, cantada em francês, língua que deu ainda mais emotividade a interpretação de Daniel e encerrando em altíssimo estilo esta insana viagem que nos foi ofericida.
     E o adeus definitivo se dá com 'Ending Credits', do mesmoestilo da abertura do disco, cinematográfica. Uma bonita canção instrumental,que realmente dá a sensação de ser a trilha do final de um filme em preto e branco enquanto sobrem os crédtios finais, colocando um ponto final na rica e abstrata aventura que acabamos de ter.
       Sobre o tema do disco, novamente não me arrisco a dar qualquer parecer. Antes de mais nada, cada uma dessas canções tem a intenção de significar algo pessoal e marcante para cada ouvinte, individualmente, sem necessitar de uma história explícita e que todos devam aceitar.
        Já disse uma vez que considero Daniel Gildenlöw um verdadeiro gênio, megalomaníaco e excêntrico, mas um gênio. E a coragem dele em fazer o que bem quiser, o que o seu senso de artista pede, faz com que eu o admire ainda mais. Essa saga de Road Salt é mais uma ótima obra desenvolvida por ele , e que consagra mais e mais o Pain of Salvation como uma das bandas mais criativas do cenário metálico contemporâneo.
Toda a arte do disco é muito bonita também, e embelezará sua coleção se você adquirir. Não perca!

Nota 9



O Pain of Salvation é:

Daniel Gildenlöw – Vocais, guitarras e baixo
Johan Hallgren – Guitarra e vocais adicionais
Fredrik Hermansson – Teclado, piano, orgão e mellotron
Léo Margarit – Bateria e backing vocals


Track List:

  1. Road Salt Theme (00:45)
  2. Softly She Cries (04:18)
  3. Conditioned (04:30)
  4. Healing Now (04:34)
  5. To The Shoreline (03:03)
  6. Eleven (06:28)
  7. 1979 (02:53)
  8. The Deeper Cut (06:14)
  9. Mortar Grind (05:49)
  10. Through The Distance (03:00)
  11. The Physics Of Gridlock (08:43)
  12. End Credits (3:25)



  


sábado, 1 de outubro de 2011

Opeth - Heritage

        Existem bandas que fazem música, e existem bandas que transformam sua música em verdadeiras obras de arte. O Opeth, ao longo de seus vinte anos de carreira, decididamente entrou nesse hall de bandas que transcendem o mero ato de fazer música e se tornam lendas dentro de um cenário artístico.
Mikael Akerfeldt e sua trupe fizeram fama com a revolucionária ideia de unir o peso, a distorção e a violência do Death Metal com toda a técnica e complexidade do progressivo. Alternando guturias poderosos com cristalinas passagens de vocal limpo, levando os fãs por intensas e sombrias viagens, indo muito fundo na cerne humana. Mas agora Mikael decidiu ousar. Em “Heritage” não há nem sombra de qualquer coisa que remeta a Death Metal, nenhuma passagem em gutural, sem pancadaria ou virulência. O que ouvimos ao longo da audição é o que poderíamos comparar a discos de rock progressivos dos anos 70.
       Sim, não temos Death Metal no disco. Mas mesmo assim, é um disco 100% Opeth. Ao longo dos anos eles conseguiram criar uma sonoridade única, tão própria e original que, mesmo inventado de trilhar outros caminhos que não o habitual, continuam soando como sempre. As composições ainda são soturnas, sombrias e marcantes, que envovlem o ouvinte e o fazem mergulhar em um universo de sombras e medos escondidos. É um Opeth com outra cara, mas sem em momento nenhum deixar de ser Opeth.
      Muito bem, isso ficomuito claro logo de cara na faixa instrumental que abre e dá título ao disco. 'Heritage' é uma bonita e impressiva melodia de piano, que dá o tom do que há de se ouvir no decorrer dos trabalhos. Tem a marca resgistrada das composições de Akerfeldt: uma melancolia sublime, linda apesar de triste, e que transborda feeling. Abertura digníssima.
       Logo em seguida temos o single, 'The Devils Orchard'. Sobre ela vou repetir o que escrevi quando ela foi divulgada algum tempo atrás: o começo lembra um pouco Dream Theater, soando de uma forma absolutamente progressiva. Ela segue e ganha contornos levementes psicodélicos, com as linhas de teclado propiciando essa sensação, assim como riffs distorcidos e as batidas da bateria soando secas e num ritmo hipnótico. Ao mesmo tempo que existe essa faceta psicodélica, a canção é absolutamente sombria, sendo essa uma das marcas registradas da banda. O refrão, onde se repete várias vezes a frase "God is dead..." (influência de Nietzsche?) mostra que Mikael agora está completamente a vontade com os vocais limpos, aprimorando sua técnica e dando mais provas de que é um grande cantor.
      'I Feel The Dark' começa com dedilhados que a mim soam com um certo quê espanhol, para depois entrar Mikael com sua interpretação sombria e soturna. Então vem novamente a bateria e seu ritmo constante e hipnótico, e ainda linhas de teclado que flutuam de forma viajante. A virada que acontece na sua metade remete a um som mais clássico do Opeth, com peso mais latente e riffs mais familiares. E em seu final tudo isso se mistura numa química perfeita e marcante.
      Já 'Slither' vem numa onda diferente. Tem claras influências de Rainbow, principalmente da época que contava com Dio nos vocais. É uma faixa mais agitada e reta, de riffs mais constantes e bateria com mais pegada. Uma ótima faixa, que denota bastante versatilidade dos músicos. A face mais sombria e soturna retorna com classe em 'Nepenthe', que lembra um pouco jazz, misturado com progressivo, num balanço difícil de definir. O riff que se segue mais adiante é outra prova de o Opeth criou uma identidade marcante, pois é um dos típicos casos que você saberia na hora o que está ouvindo. Outra grande faixa.
      O começo acústico de 'Häxprocess', onde o que predominda é o vocal de Mikael, é de arrepiar. Aos poucos a canção cresce e toma mais forma, se tornando complexa e cheia de nuances, com batidas secas e quebradas de bateria, instrumentos de sopros aqui e ali, linhas de teclado impressivas, e riffs e acordes espalhados por todos os lados, mas perfeitamente custurados, terminando numa sonoridade envolvente. Uma das melhores do disco todo.
    Foi muito inteligente o clima desenvolvido na introdução de 'Famine', com batidas de intrumentos exóticos, ruídos e risadas ao fundo, tudo muito obscuro, quase macabro até. Mas quando entra um piano triste, de notas esparsas e melancólicas, a coisa toma outro rumo. Mikael aparece com uma voz mais encorpada, que abre caminho para um intrumental com bastante peso, meio arrastado em alguns momentos, que sobe e desce em quebras totalmente progressivas. É uma faixa mais longa, repleta de um feeling mais soturno e também é destaque.
      'The Lines In My Hand' é outra um pouco mais agitada, que conta com um ritmo embalado por algo que suponho (não tenho certeza) ser um acordeão em algumas passagens , que de qualquer forma soa muitíssimo interessante. A bateria tem muita cadência e o baixo é peça chave, o teclado propicia um clima psicodélico ao fundo. É de fato uma música meio estranha, mas mesmo assim esplêndida e de final empolgante.
      Logo após temos mais uma longa. 'Folklore' lembra um pouco o que se ouviu no álbum “Damnation”(2003), mas com a sonoridade proposta no restante do disco, com ares setentistas e psicodélicos. Os riffs são bonitos e chamativos, as linhas de bateria bem construídas e com Mikael mandando muito bem nos vocais. Também temos mudanças de andamentos, com pequeninos interlúdios sombrios. Excepcional!
      E o fechamento fica a cargo de 'Marrow Of The Earth', que assim como a abertura, é instrumental. Uma melodia linda de guitarra acústica, com alguns dedilhados e riffs serenos de profundida emocional latente. Dentro do que se propôs com o trabalho, foi o encerramento perfeito.
     E falando na propostado disco, eu preciso ressaltar a espetacular arte da capa do disco. Travis Smith talvez tenha ali sua obra-prima. Quem conhece um pouco da história da arte poderia facilmente ali reconhecer algumas influências. De certa forma seria uma mistura de arta sacra do século XVI, principalemnte de pintores holandeses, com uma estética de modernismo e escolas artísticas do início do século XX. Realmente uma arte maravilhosa, cheia de significados ocultos que atiçam a imaginação dos fãs.
     Eu considero Mikael Akerfeldt como um dos grandes gênios do Heavy Metal da atualidade, e o seu Opeth uma das bandas mais originais e criativas que surgiram nos últimos vinte anos. E agora este “Heritage” só vem confirmar essa minha opinião. Muitos fãs puristas simplesmete odiaram com todas as suas forças esse disco, mas Mikael foi corajoso e fez o disco que queria fazer, obscuro, tétrico e recheado de influêncais diversas, acertando muito bem a mão neste trabalho que já consta na minha lista de melhores do ano.
     A Hellion Records lançou uma versão nacional, como também dispõe de várias versões importadas e com materias extras. Não perca!

Nota 10

O Opeth é:

Mikael Akerfeldt – Vocals, Guitars, Mellotron, Piano, FX
Martín Mendez – Baixo
Martin Axenrot – Drums, Percussions
Frederik Akensson – Guitars (rhythm), Guitars (lead)
Per Wiberg – Keyboards, Hammond Organ, Piano, Fender Rhodes, Wurlitzer


Track List:

  1. Heritage (02:05)
  2. The Devil's Orchard (06:40)
  3. I Feel the Dark (06:40)
  4. Slither (04:03)
  5. Nepenthe (05:40)
  6. Häxprocess (06:57)
  7. Famine (08:32)
  8. The Lines in My Hand (03:49)
  9. Folklore (08:19)
  10. Marrow of the Earth (04:19)