terça-feira, 7 de agosto de 2012

Luca Turilli's Rhapsody - Ascending to Infinity


            Como não poderia deixar de ser, fiquei muito surpreso com essa história mal contada sobre a separação repentina do Rhapsody of Fire. Pessoalmente não vi o menor sentido em haver duas bandas diferentes para fazer exatamente o mesmo tipo de música. Ao ouvir este “Ascending to Infinity” precisei mudar um pouco de opinião.
            Parei para ouvir este disco com a menor das expectativas. Sinceramente. Eu estava esperando simplesmente mais um disco do Rhapsody of Fire, que apesar de muito bons lançamentos recentes, praticamente soasse idêntico aos discos anteriores. Com o primeiro vídeo, a capa do disco e track list essa impressão apenas cresceu. Esperava ouvir mais uma vez as mesmas melodias pomposas, super trabalhadas, com riffs um tanto progressivos e orquestrações imensas e muito épicas. Muito bumbo duplo e solos na velocidade da luz, uma abertura instrumental com alguma narração qualquer, além de uma baladinha folclórica em italiano e um super épico de quinze a vinte minutos fechando o disco. Nada mais do que isso.
            O curioso é que praticamente tem tudo isso aí mesmo, não fugindo ao “estilo” clássico que Luca Turilli criou no Rhapsody of Fire. O meu erro mesmo foi achar que ele soaria idêntico aos últimos discos.
            O que se nota “Ascending to Infinity” é uma vontade muito grande de Luca em soar cinemático, imponente, um pouco menos metal até, praticamente deixando de lado toda a marca progressiva que se ouviu na fase mais recente de sua antiga banda. De certa forma, não absoluta óbviamente, este é um disco de Power Metal mais genuíno, que aposta pesado em orquestrações e naquele espírito renovador que fez do Rhapsody do fim dos anos 90 um dos grandes nomes do Heavy Metal mundial.
            Já se nota alguma diferença na intro que abre o disco. ‘Quantum X’ tem lá uma narração também, mas bem mais discreta, ao mesmo em tempo que mescla algumas coisas que soam eletrônicas, bem modernas, com orquestrações e corais bem cinematográficos mesmo. Achei muito interessante, lembrando as anteriores sem ser exatamente a mesma coisa.
            A faixa seguinte é a que traz consigo o nome do álbum. Logo de cara pode-se reparar na claríssima intenção de Luca em voltar com tudo no estilo neoclássico que o consagrou no começo da carreira. Uma faixa mais “seca”, sem tantas orquestrações, mas que esbanja melodia. Porém não é nada extramente exagerado, tudo muito bem pensado sem ser forçado ou enjoativo demais. É uma excelente canção, apesar de flertar perigosamente com o clichê, mas não é o que de melhor pode oferecer a audição.
            ‘Dantes Inferno’ por sua vez já é bem interessante. Tirando o começo um tanto sem graça, a faixa cresce absurdamente no refrão, pegando forte na influência de ópera tipicamente italiana. Conta com um ótimo trabalho do teclado tocado pelo próprio Luca, que se alia à orquestra criando uma atmosfera realmente imponente e grandiosa. Essa sim uma dos belos destaques do disco.
            Uma faixa mais longa no meio do track list também algo bem pouco comum na discografia de Luca no Rhapsody. Sendo assim, esta ‘Excalibur’ com seus oito minutos dá uma espécie de reviravolta na audição, o que prende a atenção de quem ouve e assim foge do óbvio. Mais um ótimo refrão, carregada de riffs melódicos e uma bateria que faz seu trabalho corretamente, sem precisar apelar para velocidade exagerada para se destacar. Uma música de poucas mudanças de andamento, mas as poucas vezes são eficientes e bem colocadas. Destaque também para as discretas inserções de flautas folks, que não fariam falta, mas dão um quê a mais de qualquer forma. Mais uma ótima faixa, que demonstra a interessante revigorada que Luca quer dar a sua música.
             Uma boa ideia que surgiu em “From Chaos to Eternity” (o último do Rhapsody of Fire, de 2011) foi finalmente gravar uma música rápida em italiano. Luca não foi bobo e nos manda uma assim, desta feita ‘Tormento e Passione’. É uma bela mistura de uma música comum, rápida e melódica, com as antigas baladas na língua mãe. O resultado final é muito bom, fazendo justiça ao seu título, pois poderíamos dividir a músicas em duas partes, a rápida e pesada seria o tormento enquanto a segunda, cadenciada com muito sentimento, é a paixão. Uma boa sacada.
            ‘Dark Fate of Atlantis’ foi a primeira música divulgada desse projeto. Colaborou com meu mau julgamento sobre o que viria, pois me pareceu (e continua) chata, clichê e bem desnecessária. Muito igual a outras coisas.Salvaria apenas o coral do refrão, pois esse sim é algo de nota.
            Mas logo em seguida vem uma preciosidade, que definitivamente me fez ver o trabalho com um todo com outros olhos. Um cover, sim, um cover, mas que ganhou uma versão fantástica e empolgante. ‘Luna’, originalmente do cantor pop Alessandro Safina, recebeu uma roupagem mais sinfônica, sem perder a aura pop, sendo de um feeling extraordinário, naquela paixão que só a língua italiana consegue dar à uma canção. Um acerto em cheio, uma ideia de gênio que merece ser aplaudida. Não haveria forma mais correta de fugir do comodismo.
            ‘Clash of the Titans’ poderia muito bem fazer parte do “Power of the Dragon Flame” (2002). Épica, de refrão empolgante e com uma intensidade realmente impactante. Aqui os ditos riffs progressivos dão as caras, sutilmente, mas se fazendo ouvir. Outra coisa que remete ao outro Rhapsody são as breves passagens de vocal mais agressivo do vocalista Alessandro Conti (falo dele em especial mais adiante), que Fábio Lione andou se aventurando a fazer ultimamente. No geral uma ótima faixa que encaminha o final.
            O encerramento é a bastante longa “Of Michael The Archangel And Lucifer’s Fall”. É uma faixa muito boa sim, repleta de tudo o que se ouviu ao longo do disco e essa conversa de sempre. Não traz absolutamente nada de novo, feita no molde que suponho Luca ter guardado em um armário de sua casa. É um pouco frustrante você ouvir um disco que desde o começo se empenha em não ser tão óbvio terminar com essa obviedade de dezesseis minutos. Eu gosto de músicas assim, gosto mesmo, mas essa em especial não me disse nada. Mas de qualquer forma não compromete a proposta do álbum como um todo.
            Sobre Alessandro Conti: atuação apenas satisfatória. Nesse estilo em que ele canta existem centenas iguais, e pessoalmente não acho que ele se destaque muito. Ainda mais pelo fato dele ter exatamente o mesmo sotaque italiano do Fábio Lione, o que me desagrada um pouco.
            “Ascending to Infinity” me surpreendeu. Bastante. No seu conjunto passa longe do brilhantismo ou genialidade, mas com momentos individuais que são realmente fantásticos, mas consegue ser competente e extremamente bem feito e apaixonado. Tem lá suas irregularidades talvez, e um track list construído ao redor de uma carcaça de um do Rhapsody of Fire, porém esse ar cinemático muito mais latente e o affair intenso como neoclássico compensam bem essas ligeiras falhas, resultando assim em um trabalho que deve agradar bastante os entusiastas desse estilo.
            Se você ainda é fã devoto do metal sinfônico vai amar este disco, senão for tanto assim pode muito bem gostar dele, mas se não gostar do estilo ou não tiver mais paciência para isso, é melhor passar longe.
            Enfim, estava pronto para descer a lenha nesse disco, mas Luca me fez tostar um pouco a língua. É muito bom, porém podia ser melhor.

Nota 8

O Luca Turilli’s Rhapsody é:

Alessandro Conti – Vocais
Luca Turilli – Guitarras e teclados
Dominique Leurquin – Guitarras
Patrice Guers – Baixo
Alex Holzwarth – Bateria

Track List:

  1. Quantum X
  2. Ascending to Infinity
  3. Dante's Inferno
  4. Excalibur
  5. Tormento e Passione
  6. Dark Fate of Atlantis
  7. Luna (Alessandro Safina cover)
  8. Clash of the Titans
  9. Of Michael the Archangel and Lucifer's Fall




Um comentário:

  1. Oi,Júlio, pelo visto temos opiniões bem contrastantes em relação a esse disco, apesar da sua conclusão não ser muito diferente da minha.

    Eu acho esse Alessandro Conti bastante competente, o cara tem um registro agudo impressionante conseguindo reler a dificílima "March Of Time" praticamente no mesmo tom que Kiske. Nos outros registros não deixa nada a desejar e ainda tem uma excelente dicção, só o timbre que não é lá grandes coisas.

    Não acho que os discos recentes do Rhapsody Of Fire se parecem com os do passado, isso fica ainda mais nítido se você pegar um disco como Legendary Tales e depois ouvir From Chaos To Eternity verá que mudou muita coisa, apesar de ser difícil a missão de apontar o que mudou.

    Esse disco do Luca Turilli longe de ser inovador é bem diferente de muita coisa que eu já ouvi dele, soa mais futurista com pitadas de música latina em algumas faixas, orquestração pesada sem uma gota de barroco.

    Asceding To Infinity é a melhor faixa do disco, Dante's Inferno tem o refrão mais coxinha que eu já ouvi, gosto de Dark Fate Of Atlantis não acho ela nem um pouco clichê, tem um toque futurista que me remeteu ao "The Great Pandemonium" do Kamelot, um clima caótico e que só fica épico com a entrada do coral.

    Ainda observei uns elementos maias bem discretos que me lembraram do Mayan, é uma música bem difícil de cantar e Alessandro Conti foi muito bem ao meu ver. E eu não estou lembrado de nenhuma canção do Rhapsody Of Fire parecida com ela.

    As opiniões divergem e a vida segue adiante, Júlio você está sumido, quando der tempo dá pelo menos umas dicas do que você vem ouvindo. Ah sim, o disco podia ter sido bem melhor mesmo.

    Abraços.







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