Como
não poderia deixar de ser, fiquei muito surpreso com essa história mal contada
sobre a separação repentina do Rhapsody of Fire. Pessoalmente não vi o menor
sentido em haver duas bandas diferentes para fazer exatamente o mesmo tipo de
música. Ao ouvir este “Ascending to Infinity” precisei mudar um pouco de
opinião.
Parei
para ouvir este disco com a menor das expectativas. Sinceramente. Eu estava
esperando simplesmente mais um disco do Rhapsody of Fire, que apesar de muito
bons lançamentos recentes, praticamente soasse idêntico aos discos anteriores.
Com o primeiro vídeo, a capa do disco e track list essa impressão apenas cresceu.
Esperava ouvir mais uma vez as mesmas melodias pomposas, super trabalhadas, com
riffs um tanto progressivos e orquestrações imensas e muito épicas. Muito bumbo
duplo e solos na velocidade da luz, uma abertura instrumental com alguma
narração qualquer, além de uma baladinha folclórica em italiano e um super
épico de quinze a vinte minutos fechando o disco. Nada mais do que isso.
O
curioso é que praticamente tem tudo isso aí mesmo, não fugindo ao “estilo”
clássico que Luca Turilli criou no Rhapsody of Fire. O meu erro mesmo foi achar
que ele soaria idêntico aos últimos
discos.
O
que se nota “Ascending to Infinity” é uma vontade muito grande de Luca em soar
cinemático, imponente, um pouco menos metal até, praticamente deixando de lado
toda a marca progressiva que se ouviu na fase mais recente de sua antiga banda.
De certa forma, não absoluta óbviamente, este é um disco de Power Metal mais
genuíno, que aposta pesado em orquestrações e naquele espírito renovador que
fez do Rhapsody do fim dos anos 90 um dos grandes nomes do Heavy Metal mundial.
Já
se nota alguma diferença na intro que abre o disco. ‘Quantum X’ tem lá uma narração também, mas bem mais discreta, ao
mesmo em tempo que mescla algumas coisas que soam eletrônicas, bem modernas,
com orquestrações e corais bem cinematográficos mesmo. Achei muito
interessante, lembrando as anteriores sem ser exatamente a mesma coisa.
A
faixa seguinte é a que traz consigo o nome do álbum. Logo de cara pode-se
reparar na claríssima intenção de Luca em voltar com tudo no estilo neoclássico
que o consagrou no começo da carreira. Uma faixa mais “seca”, sem tantas
orquestrações, mas que esbanja melodia. Porém não é nada extramente exagerado,
tudo muito bem pensado sem ser forçado ou enjoativo demais. É uma excelente
canção, apesar de flertar perigosamente com o clichê, mas não é o que de melhor
pode oferecer a audição.
‘Dantes Inferno’ por sua vez já é bem
interessante. Tirando o começo um tanto sem graça, a faixa cresce absurdamente
no refrão, pegando forte na influência de ópera tipicamente italiana. Conta com
um ótimo trabalho do teclado tocado pelo próprio Luca, que se alia à orquestra
criando uma atmosfera realmente imponente e grandiosa. Essa sim uma dos belos
destaques do disco.
Uma
faixa mais longa no meio do track list também algo bem pouco comum na
discografia de Luca no Rhapsody. Sendo assim, esta ‘Excalibur’ com seus oito minutos dá uma espécie de reviravolta na
audição, o que prende a atenção de quem ouve e assim foge do óbvio. Mais um
ótimo refrão, carregada de riffs melódicos e uma bateria que faz seu trabalho
corretamente, sem precisar apelar para velocidade exagerada para se destacar.
Uma música de poucas mudanças de andamento, mas as poucas vezes são eficientes
e bem colocadas. Destaque também para as discretas inserções de flautas folks,
que não fariam falta, mas dão um quê a mais de qualquer forma. Mais uma ótima
faixa, que demonstra a interessante revigorada que Luca quer dar a sua música.
Uma boa ideia que surgiu em “From Chaos to
Eternity” (o último do Rhapsody of Fire, de 2011) foi finalmente gravar uma
música rápida em italiano. Luca não foi bobo e nos manda uma assim, desta feita
‘Tormento e Passione’. É uma bela
mistura de uma música comum, rápida e melódica, com as antigas baladas na
língua mãe. O resultado final é muito bom, fazendo justiça ao seu título, pois
poderíamos dividir a músicas em duas partes, a rápida e pesada seria o tormento
enquanto a segunda, cadenciada com muito sentimento, é a paixão. Uma boa
sacada.
‘Dark Fate of Atlantis’ foi a primeira
música divulgada desse projeto. Colaborou com meu mau julgamento sobre o que
viria, pois me pareceu (e continua) chata, clichê e bem desnecessária. Muito
igual a outras coisas.Salvaria apenas o coral do refrão, pois esse sim é algo
de nota.
Mas
logo em seguida vem uma preciosidade, que definitivamente me fez ver o trabalho
com um todo com outros olhos. Um cover, sim, um cover, mas que ganhou uma
versão fantástica e empolgante. ‘Luna’,
originalmente do cantor pop Alessandro Safina, recebeu uma roupagem mais
sinfônica, sem perder a aura pop, sendo de um feeling extraordinário, naquela
paixão que só a língua italiana consegue dar à uma canção. Um acerto em cheio,
uma ideia de gênio que merece ser aplaudida. Não haveria forma mais correta de fugir
do comodismo.
‘Clash of the Titans’ poderia muito bem
fazer parte do “Power of the Dragon Flame” (2002). Épica, de refrão empolgante
e com uma intensidade realmente impactante. Aqui os ditos riffs progressivos
dão as caras, sutilmente, mas se fazendo ouvir. Outra coisa que remete ao outro
Rhapsody são as breves passagens de vocal mais agressivo do vocalista
Alessandro Conti (falo dele em especial mais adiante), que Fábio Lione andou se
aventurando a fazer ultimamente. No geral uma ótima faixa que encaminha o
final.
O
encerramento é a bastante longa “Of
Michael The Archangel And Lucifer’s Fall”. É uma faixa muito boa sim, repleta
de tudo o que se ouviu ao longo do disco e essa conversa de sempre. Não traz
absolutamente nada de novo, feita no molde que suponho Luca ter guardado em um
armário de sua casa. É um pouco frustrante você ouvir um disco que desde o
começo se empenha em não ser tão óbvio terminar com essa obviedade de dezesseis
minutos. Eu gosto de músicas assim, gosto mesmo, mas essa em especial não me
disse nada. Mas de qualquer forma não compromete a proposta do álbum como um
todo.
Sobre
Alessandro Conti: atuação apenas satisfatória. Nesse estilo em que ele canta
existem centenas iguais, e pessoalmente não acho que ele se destaque muito.
Ainda mais pelo fato dele ter exatamente o mesmo sotaque italiano do Fábio
Lione, o que me desagrada um pouco.
“Ascending to Infinity” me surpreendeu.
Bastante. No seu conjunto passa longe do brilhantismo ou genialidade, mas com
momentos individuais que são realmente fantásticos, mas consegue ser competente
e extremamente bem feito e apaixonado. Tem lá suas irregularidades talvez, e um
track list construído ao redor de uma carcaça de um do Rhapsody of Fire, porém
esse ar cinemático muito mais latente e o affair intenso como neoclássico
compensam bem essas ligeiras falhas, resultando assim em um trabalho que deve
agradar bastante os entusiastas desse estilo.
Se
você ainda é fã devoto do metal sinfônico vai amar este disco, senão for tanto
assim pode muito bem gostar dele, mas se não gostar do estilo ou não tiver mais
paciência para isso, é melhor passar longe.
Enfim,
estava pronto para descer a lenha nesse disco, mas Luca me fez tostar um pouco
a língua. É muito bom, porém podia ser melhor.
Nota 8
O Luca Turilli’s Rhapsody é:
Alessandro Conti – Vocais
Luca Turilli – Guitarras e
teclados
Dominique Leurquin – Guitarras
Patrice Guers – Baixo
Alex Holzwarth – Bateria
Track List:
- Quantum X
- Ascending to Infinity
- Dante's Inferno
- Excalibur
- Tormento e Passione
- Dark Fate of Atlantis
- Luna (Alessandro Safina cover)
- Clash of the Titans
- Of Michael the Archangel and Lucifer's Fall
Oi,Júlio, pelo visto temos opiniões bem contrastantes em relação a esse disco, apesar da sua conclusão não ser muito diferente da minha.
ResponderExcluirEu acho esse Alessandro Conti bastante competente, o cara tem um registro agudo impressionante conseguindo reler a dificílima "March Of Time" praticamente no mesmo tom que Kiske. Nos outros registros não deixa nada a desejar e ainda tem uma excelente dicção, só o timbre que não é lá grandes coisas.
Não acho que os discos recentes do Rhapsody Of Fire se parecem com os do passado, isso fica ainda mais nítido se você pegar um disco como Legendary Tales e depois ouvir From Chaos To Eternity verá que mudou muita coisa, apesar de ser difícil a missão de apontar o que mudou.
Esse disco do Luca Turilli longe de ser inovador é bem diferente de muita coisa que eu já ouvi dele, soa mais futurista com pitadas de música latina em algumas faixas, orquestração pesada sem uma gota de barroco.
Asceding To Infinity é a melhor faixa do disco, Dante's Inferno tem o refrão mais coxinha que eu já ouvi, gosto de Dark Fate Of Atlantis não acho ela nem um pouco clichê, tem um toque futurista que me remeteu ao "The Great Pandemonium" do Kamelot, um clima caótico e que só fica épico com a entrada do coral.
Ainda observei uns elementos maias bem discretos que me lembraram do Mayan, é uma música bem difícil de cantar e Alessandro Conti foi muito bem ao meu ver. E eu não estou lembrado de nenhuma canção do Rhapsody Of Fire parecida com ela.
As opiniões divergem e a vida segue adiante, Júlio você está sumido, quando der tempo dá pelo menos umas dicas do que você vem ouvindo. Ah sim, o disco podia ter sido bem melhor mesmo.
Abraços.