Não quero afirmar que tenha ficado decepcionado com este novo disco do Tristania. De certa forma, já sabia que não deveria esperar por algo que soasse como os antigos trabalhos, os dois da era onde Morten Veland ainda estava na banda e também no fantástico “World of Glass” (2001, e já sem a presença de Morten). De forma alguma desmereço o trabalho da banda nos álbuns subsequentes, mas no que a banda se tornou realmente não me soa como Tristania.
Geralmente eu não critico quando uma banda que eu gosto redireciona sua sonoridade por outros caminhos. Sim, não critico nem me incomodo com isso, mas desde que a essência da banda continue intacta, que sua proposta não seja perdida com o passar dos anos. Infelizmente é isso que eu vejo que ocorreu ao Tristania. Não é o caso de querer dizer que tal ou tal membro faz falta, não é isso, o ponto é que as seguidas reformulações no line-up (que eu sinceramente nem saberia enumerar corretamente) acabaram por tirar a identidade da banda, deixando-os sem rumo e fazendo apostas que não foram de todas acertadas.
É louvável não ficar na estagnação e na segurança de se autocopiar, só que isso tem que ser feito com plena segurança do que se quer, medindo os riscos e não abandonar por completo algo que foi muito bom no passado. Isso que estou falando bem sei que é algo muito relativo, e depende muito do gosto e do ponto de vista dos fãs, mas ao menos no meu caso, achei os álbuns “Ashes” (2005) e “Illumination” (2007) fracos, sonolentos e completamente sem sal, que mostram uma banda perdida e que não sabe para onde vai.
Pois bem, Vibekke também pulou fora do barco e foi recrutada a italiana Mariangela "Mary" Demurtas, e então “Rubicon” foi gravado. A primeira impressão que se tem do disco é que as firulas ambientais e excessivamente climáticas foram deixadas de lado, deixando o disco mais direto e pesado. É um ponto positivo.
A primeira faixa se chama 'Year of the Rat', que tem teclados proeminentes, bateria marcante com participação mais discreta das guitarras. A primeira amostra da voz de Mary é interessante, o refrão é pegajoso e entupido de efeitos digitais completamente dispensáveis. Mas de qualquer forma começa bem. A seguir vem 'Protection', que por sua vez é mais tradicional, lembra vagamente momentos antigos da banda, mas para isso ainda falta alguma coisa que eu não saberia especificar, mas é uma boa canção. Tem peso e corais discretos, os vesos cantados por Mary são bonitos e agradavéis, mas mais uma vez no refrão temos bobagens eletrônicas. Os harsh vocals podiam ser mais abrangentes.
É muito interessante a música seguinte, 'Patriot Games'. Tem uma cara meio moderna e tal, decididamente não soa Tristania, mas é muito boa, bem pesada, bons riffs, vocais masculinos limpos bacanas e um refrão que empolga (mexido de novo, constante do disco todo). Bela faixa! A seguir vem 'The Passing', de começo arrastado e sombrio, com teclados flutuantes, os vocais são brandos e macios, mas que crescem e algo maior. Seria uma ótima faixa, mas falta força e impacto, grandisosidade também. Mas não é ruim, longe disso.
Depois temos mais uma com boa dose de peso: 'Exile'. Achei os vocais limpos masculinos meio estranhos e deslocados, mas no seu decorrer se acomoda melhor, fazendo-a uma canção bonita e elegante, de ótima interpretaçãode Mary agora só com sua muito boa voz pura e sem mudanças de estúdio. 'Sirens' vem a seguir com uma introdução sombria e com um quê psicodélico, mas bem soturno. Parece um pouco confusa, e não marca muito ao ouvinte.
'The Emerald Piper' (é uma faixa bônus em algumas edições; mas esse é um ponto que eu não tenho muita certeza) é outra muito bacana, de riffs pesados, refrão interessante e que chama atenção. 'Vulture' na minha opinião soa um pouco genérica, sem grandes atrativos; lembra demais outras faixas do disco. Numa batida mais interessante vem 'Amnesia', que conta com interessantes participações de instrumentos de orquestra, trazendo um pouco de nostalgia para os fãs mais antigos. Os teclados se juntam nessa mistura criando um clima realmente chamativo.
O fim se aproxima. 'Magic Fix' inicia a reta final com bastante criatividade, se mostrando uma canção versátil e muito boa, pesada, mais acelerada e com boa intepretação dos vocalistas. E a última faixa uma longa com mais de 8 minutos, 'Illumination'. Apesar de ser grande não mostra muitas variações, mas tem corais que são mais ativos e grandiosos, linhas de baixo e guitarra mais sólidas e intensas, construíndo um clima que dá grandeza ao som. Muito bom encerramento.
Em minha opinião este “Rubicon” é consideravelmente melhor que seus dois antecessores. Tem uma sonoridade bem mais linear e convicta, com indícios de que ao menos a banda novamente terá uma cara prórpia. Eu não tenho esperança que façam um novo “Beyond the Veil” (1999), seria utopia querer algo do gênero, e também não creio que consigam criar uma sonoridade que honre o passado da banda. Mas nem por isso acho que a banda deva acabar ou mudar de nome ou seja lá o que for, já fico feliz em ao menos eles estarem em vias de conseguir se reerguer e fazer novamente discos bons.
Se você não é purista vale a pena adquirir.
O Tristania é:
Anders Høyvik Hidle – Guitarra, Harsh Vocals
Einar Moen – Teclado, programações
Mariangela "Mary" Demurtas – Vocias
Ole Vistnes – Baixo, backing vocals
Gyri Smørdal Losnegaard – Guitarra
Kjetil Nordhus – Clean Vocals
Tarald Lie – Bateria
Track List:
- Year of the Rat (04:35)
- Protection (04:15)
- Patriot Games (03:27)
- The Passing (04:48)
- Sirens (04:2)
- The Emerald Piper (03:09)
- Vulture (03:4)
- Amnesia (04:54)
- Magical Fix (04:20)
- Illumination (08:13)
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