O Paradise Lost decididamente é uma das minhas bandas favoritas. Representam uma das pedras fundamentais do Gothic/Doom Metal britânico, ao lado de dois outros gigantes no estilo: My Dying Bride e Anathema. Estes três nomes receberam o título de “A sagrada tríade do Doom Metal”.
Os anos foram passando e no Doom Metal tradicional só ficou mesmo o My Dying Bride. O Anathema rumou por caminhos progressivos e ambientais, mas de fato sem perder sua alma e sua identidade.
Enquanto isso, o Paradise Lost andou numa verdadeira montanha russa; foi desde o tétrico e visceral Doom com intensas mesclas com Death dos dois primeiros trabalhos, “Lost Paradise” (1990) e “Gothic” (1991), passando pelo mais puro e genuíno Gothic Metal de álbuns como “Icon” (1993) e “Draconan Times” (1995), trilhando caminhos alternativos no controveso “One Second” (1997), no a lá Depeche Mode “Host” (1999) e no absolutamente injustiçado “Believe in Nothing” (2001). Aos poucos foram voltando ao som que os consagrou na metade da década de 90, com álbuns mais pesados como “Symbol of Life” (2002), “Paradise Lost” (2005) e “In Requiem” (2007, este uma pequena obripria, diga-se de passagem). E em meio a esse processo de retorno ao bom e velho peso, em 2009 nos chegou “Faith Divides Death Unites Us”.
A boa impressão já começa pelo título, forte e impactante. A banda sempre manteve uma posição contra as organizações religiosas, e externou isso de maneira muito latente neste trabalho. Não que se trate de um disco conceitual, apenas vários temas entrelaçados sob um mesmo pano de fundo: a forma como as religiões fazem mal para a humanidade, como manipulam as pessoas e criam verdades ao seu bel prazer.A arte da capa e todo o encarte também deixam claro o tema das canções, retratando antigas pinturas sobre as bárbaries cometidas pelas religiões ao longo dos séculos.
E esse veia sobre religião já fica mais do que clara logo na abertura da primeira faixa, a espetacular 'As Horizons Ends'. Ao fundo se ouvem corais óbviamente sacros, bem no estilo das liturgias inglesas, que vão crescendo e desembocam em riffs pesadíssimos, remetendo a velha fase Doom metal de outrora, mais rápidos às vezes mais quase sempre lentos e cadenciados. Aliás, os riffs de Gregor Machintosh tem sido marca registrada do banda em seus trabalhos mais recentes, sempre exalando verdadeiros sentimentos de suas notas, da mais profunda e intensa melancolia. Ponto positivíssimo!
Logo em seguida mais um petardo daqueles. 'I Remain' já começa esbanjando peso com guitarras e baixo poderoso, que abrem caminho para a ótima performance de Nick Holmes, que ao longo dos anos soube apefeiçoar sua técnica vocal para ir do mais grave e sujo, beirandos os antigos guturais, até a interpretação mais limpa e contida. Grande canção, um dos melhores destaques. Após esta vem 'First Light', mais uma que consegue unir muito bem peso visceral com beleza. A bateria de Adrian Erlandsson tem participação destacada não só nesta faixa mais também como no disco todo. E ele entrou no Paradise Lost em 2009, tendo vindo do Cradlle of Filth. Fato este que nitidamente deixou o som da banda com um peso extra, dado a influência Black Metal de sua antiga banda.
'Frailty' tem um clima opressivo, é densa, muito pesada e de certa forma angustiante. Essas características fazem lembrar vagamente, guardadas as devidas proporções estílisticas e de época, com o clima do álbum “Gothic”. Isso é um dos pontos que mais me atraem na banda, a capacidade absurda de fazer uma música que transmita um sentimento completo, mesmo com letras mas simples, mas que enlaçadas com as melodias criam uma espécie de alma viva. Outra excepcional canção.
No meio do disco temos a faixa que dá título a obra. Mais cadenciada, com bastante peso também, porém um pouco mais contido. O refrão é bom, de fácil assimilação mesmo sendo mais complexo. Por falar nisso, neste disco os refrões são mesmo mais complexos na comparação com os discos anteriores, mas isso pouco importa, tanto os simples quato os complexos são sempre magníficos. Nick mais uma vez dá show em interpretação, cozinha coesa e riffs com vida própria. A próxima, junto com a faixa título, foi single e ganhou um vídeo clipe. Esta 'The Rise of Denial' é pérola de peso intenso, que é entremeada por momentos sombrios, grandes riffs, cortantes e sinistros, bateria muito atuante e vocais que a tornam num belo exemplo de como se faz Gothic Metal.
Complexa e intricada são os melhores adjetivos para descrever 'Living With Scars'. É cheia de quebras, idas e vindas meio estonteantes num peso fabuloso, guitarras mais uma vez dando espetáculo e Nick dando belas mostras de sua maturidade como vocalista; na minha humilde opinião, aspirante a clássica.
A melancolia se personifica em forma de música em uma das mais belas composições do quinteto inglês, 'Last Regret'. É de fato a mais “leve” do disco, e mesmo assim consegue soar pesada! Os belos riffs se aventuram sem medo por sobre a base sólida como uma rocha ofericida pelo baixo e bateria. A letra pode-se dizer que seja uma carta de suícidio, que casa fielemnte com o sentimento proporcionado por sua melodia. Incrível!
O play se encaminha para seu final. 'Universal Dream' parece uma releitura moderna de 'Pity The Sadness', do disco “Shades of God” (1992). Mistura momentos mais lentos e arrastados com boas passagens aceleradas, tendo como motor propulsor a bateria. Ótima faixa, que usou de elementos do passado para criar algo absolutamente novo mas com um quê nostálgico. E a derradeira canção é 'In Truth', que também é bem complexa e quebrada, com uma atmosfera tensa e opressiva, de riffs distorcidos e marcantes. Encerramento perfeito.
Nesta proposta de se re-aproximar da sonoridade que lhe deu ares de gigante na cena, o Paradise Lost acertou em cheio com “Faith Divides Us Deth Unites Us”. Um disco sincero, com vigor e pegada. Eu gosto muito dos discos da fase alternativa da banda, e quando li uma entrevista do Nik Holmes numa Roadie Crew do ano passado, fiquei muito satisfeito em saber que ele não se arrepende de nenhum dos discos lançados pela banda, afirmando que era o que eles queriam fazer na época e era o melhor deles. Grandes bandas continuam grandes por atitudes como essa, por serem corajosas, por ousarem e não terem medo de errar. Trazer de volta o peso não foi saída para se livrar dos críticos, mas sim um desejo e uma vontade deles, que não querem agradar, mas sim fazer a música que melhor represente o que eles sintam. E por isso que eu adoro essa banda!
O Paradise Lost é:
Nick Holmes – Vocais
Gregor Mackintosh – Guitarras solos
Aaron Aedy – Guitarras base acústicas
Stephen Edmondson – Baixo (Que infelizmente se desligou da banda semana passada, uma lástima)
Adrian Erlandsson – Bateria
Track List:
- As Horizons End (05:21 )
- I Remain (04:09)
- First Light (05:00)
- Frailty (04:25 )
- Faith Divides Us - Death Unites Us (04:21)
- The Rise of Denial (04:47)
- Living With Scars (04:24 )
- Last Regret (04:24)
- Universal Dream (04:17)
- In Truth (4:50)
Eu sugiro que você compre o CD numa das melhores lojas virtuais de Heavy Metal do Brasil, a Reign in Metal. Aqui você encontra uma versão importada da Argentina, por um preço muito bom. A versão nacional lançada pela Shigami Records infelizmente se encontra indispovível no site, mas creio que logo volte ao estoque.
Se você é fã de Gothic Metal verdadeiro, não deixe comprar o seu!
Certamente o PL teve uma montanha russa de mudança de sonoridade porém eles mantiveram o cuidado mantendo as letras e melodias em harmonia produzindo uma obra prima atrás da outra nessas duas décadas, parabéns PARADISE LOST !!!
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