Algumas
bandas, ao longo de muitos anos de estrada e de experiência, ficam notórias por
conseguirem elaborar um som absolutamente único e marcante. O Paradise Lost é
decididamente uma dessas bandas. Os garotos ingleses de Halifax, hoje já
respeitáveis quarentões, ajudaram a fundar um movimento que viria a se tornar
um dos mais significativos e importantes da história do Heavy Metal. Junto com
Anathema e My Dying Bride, foram pioneiros no Gothic Metal no seu sentido mais
puro e relevante.
O
caminho percorrido pela banda foi uma verdadeira montanha russa. Desde o começo
onde a aposta era um Death/Doom arrastado e tétrico, passando pelos clássicos
que o consagraram com mestres do Gothic, flertando com o eletrônico e o
alternativo para por fim retornar ao bom e velho peso mesclado com melancolia e
obscuridade nos trabalhos mais recentes. Mas, mesmo com tanta variação e
experimentações musicais, o Paradise Lost conseguiu sempre manter uma
identidade muito própria, sempre soando como eles mesmos. Os riffs muito marcantes
de Greg Mackintosh e os vocais fortes e densos de Nick Holmes ajudaram muito
nisso.
A
consolidação da banda em uma proposta musical, que se deu nos três últimos
trabalhos, apostando no peso, na técnica e melancolia, é o cenário que traz à
tona este “Tragic Idol”, décimo terceiro disco de estúdio da banda. Temos aqui
um disco absolutamente maduro, consistente e recheado de músicas que podem se
tornar clássicos junto aos fãs. Como já disse antes, a ideia é mandar ver no
peso, mas ao mesmo tempo criando uma atmosfera sombria e melancólica, com
letras que fecham com essa proposta. Temos reverências ao passado, resgatando
muitas sonoridades antigas. Como a própria banda havia prometido, é uma espécie
de junção do peso de “Faith Divides Death Unites Us” (2009) com as altas doses
de melodia de “In Requiem” (2007).
A
abertura fica a cargo de ‘Solitary One’.
De cara se nota a vontade de fazer algo que faça lembrar de discos passados,
pois a canção tem um clima melancólico e lento muito característico no disco
“Icon” (1993). Os riffs de Greg são o mais belo Gothic possível, arrastados na
medida certa, sem se tornarem chatos, com o feeling único que caracteriza o som
da banda. Os teclados garantem a ambientação sombria e soturna, enquanto Nick
fecha o pacote com uma performance impecável.
A
faixa seguinte já é conhecida desde fevereiro, quando foi disponibilizada como
presente de dia dos namorados (que nos EUA, e boa parte da Europa, se comemora
em 14 de fevereiro). ‘Crucify’ é um
petardo de peso e agressividade. Seja talvez a faixa mais reta, calcada
basicamente na ideia do peso, sem grandes outras influências, mas mesmo assim
uma excelente canção.
Fazer
um mix de peso com muita melodia foi algo certeiro em ‘Fear of Impending Hell’. Tudo muito harmoniosamente encaixado, com
nenhuma das facetas ganhando destaque demais, a intensidade se une ao melódico
perfeitamente, representado em um ótimo exemplo na atuação de Nick, que varia
entre o mais rasgado e o totalmente limpo com bastante facilidade e eficiência.
Claro que ele não é mais o garoto que fazia aqueles sonoros guturais da era
primordial, mas de qualquer forma sua técnica vocal esta mais afiada do que
nunca. E com a maturidade que os anos trouxeram ele achou a maneira mais
confortável de cantar. E convenhamos, como canta ele!
‘Honesty in Death’ é o primeiro single
de “Tragic Idol”. Uma canção que alterna entre momentos bem pesados com outros
mais calmos, com um refrão muito marcante e que logo gruda na cabeça. Conta com
um vídeo clipe muito bom e que segue a tradição de ótimos trabalhos visuais que
a banda produz. E para manter o nível alto e não deixar tempo nem para
respirar, chega a pedrada ‘Theories From
Another World’. Grandes riffs, baixo matador e outra (ele de novo!) atuação
magistral de Nick Holmes nos vocais. É preciso destacar também o trabalho de Adrian Erlandsson (que já teve passagens por
várias bandas de metal extremo) na bateria, que é outro dos responsáveis pelo
generoso acréscimo de peso no som da banda desde o último disco.
A pegada continua firme,
agora com ‘In This We Dwell’ e sua
bateria cavalgante e riffs mais retos e cortantes, além de um solo com o selo
de qualidade Greg Mackintosh. A mais curta do disco, e com um andamento tão
intenso que deixa uma vontade daquelas de bater cabeça. Grande música, e
imagino que deva funcionar muito bem ao vivo. A seguir vem ‘To The Darkness’ com todo seu vigor. Um
conjunto muito coeso do que se ouviu até aqui, com belos riffs, bateria muito
pesada, baixo fundamental e um senhor refrão de encher a boca. Mais um dos
pontos altos do trabalho.
A minha favorita é a
faixa título. Nela, a forma como tudo se encaixou ficou excelente e me causou
uma impressão muitíssimo positiva. A letra é fantástica, de cabo a rabo, muito
bem pensada e construída com a melodia da canção. Talvez esta seja o melhor
exemplo da proposta atual do Paradise Lost, lembrando do passado, sem renegar
os trabalhos recentes e nem nada que já fora feito, buscando assim soar sempre
original e criativo dentro dessa sonoridade tão única que foi alcançada.
Com ‘Worth Fighting For’ a audição encaminha seu final. Eu vejo essa
música como a que mais mistura uma sonoridade acessível com a parte pesada e de
distorção de digestão mais lenta e, com isso, atinge um resultado muitíssimo
interessante. E a farra termina de vez com a fantástica ‘The Glorious End’ (cara de pau pouca é bobagem). Super arrastada e
lenta, no molde de ‘Forever Failure’
do seminal “Draconian Times” (1995), porém soando contemporânea e cabível no
nosso tempo. Um refrão imponente, solo corretíssimo e o clima retrô totalmente
bem vindo, tudo isso fechando o trabalho lá em cima.
Toda a estética do disco
é muito interessante, em todos os seus aspectos. Desde os arranjos, melodias e
vocais, passando pela produção cristalina e irrepreensível até chegar à
belíssima arte da capa, rica em detalhes que se conectam com os temas líricos
da banda. Ou seja, um trabalho lapidado ao extremo, com a intenção de
proporcionar uma bela peça de arte ao acervo de seus fãs.
Um track list compacto e
de audição fácil, onde a audição flui naturalmente e sem se tornar cansativa. O
melhor disco da banda em bastante tempo (e isso é um feito, já que nos últimos
anos lançaram uma seqüência de discos ótimos), que une de tudo um pouco,
resultando em um trabalho firme, coeso, maduro e que consagra um estilo único
de fazer metal que é o do Paradise Lost.
Nota 9
O Paradise Lost é:
Nick Holmes – Vocais
Greg Mackintosh – Guitarra Solo
Aaron Aedy – Guitarra Base
Stephen Edmondson – Baixo
Adrian Erlandsson – Bateria
Track List:
- Solitary One
- Crucify
- Fear of Impending Hell
- Honesty in Death
- Theories from Another World
- In This We Dwell
- To the Darkness
- Tragic Idol
- Worth Fighting For
- The Glorious End